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20/05/2007
Civilizar-se

Como é sabido, o processo cultural consiste na repressão progressiva do que há de animal no homem. (C.G.Jung)

O que nós ainda teríamos de animal? Qualquer um por si mesmo ao francamente refletir sobre isso poderá descobrir. Quando na presença de outros vigiamos nosso comportamento e evitamos exteriorizar nossos pensamentos íntimos, preocupados em não deixar transparecer anormalidades de moral e de caráter. É comum o se utilizar disfarces para ocultar pensamentos, desejos e tendências a que o instinto provoca quando se está solitário. Na intimidade, distante da necessidade de se vigiar, qualquer um com os pensamentos que tem, pode perceber e avaliar o quanto de animal ainda possui e o da verdade de como é. Basta ser sincero consigo mesmo.

Muitos, em suas pregações pela moral, pelo amor, levam em seus recônditos os devaneios de quando estão a sós. Suas pregações podem ser uma compensação contra as aberrações, que, seus instintos possam lhes forçar a imaginar-se praticando, como sendo, atos condenáveis por outros. Aquele “faça o que eu falo e nunca o que eu penso ou faço” é uma realidade do cotidiano. Isso faz parte da hipocrisia humana.

Entretanto, naquela frase de início, Jung mais esteve se referindo às perversidades, às nocividades, às “animalidades” humanas. Nesta época de valores distorcidos, por demais tumultuada com o “salve-se quem puder” pela sobrevivência, os mais civilizados ficam em desvantagem. Nos menos civilizados e detentores de tendências ainda animalescas, a falta de discernimento humano os impele a serem predadores iguais a muitos animais. Estão sempre as espreitas de uma oportunidade para lesar o próximo. Os meios, se imorais, ilícitos ou mesmo nocivos, não são obstáculos para atingirem seus fins. Os lesados lhes são como presas para satisfazer seus apetites mundanos.

Aqueles que melhor dominam a repressão do animal de e em si mesmos, adquirem a incapacidade de usufruir vantagem ou lucros imerecidos provenientes de qualquer relacionamento humano. Ao contrário, preferem perder se isso possa prevalecer numa causa nobre e até de preferência, anônima. Esses “desanimalizados”, despercebidos, vivem dispersos entre o povo e se constituem como os sendo chamados de pessoas simples, quando ao contrário, muito simples são aqueles que ainda não evoluíram até dominaram seus “animais interiores” deixando-os ser predadores de seus semelhantes, embora, sejam estes que a sociedade mais admira e incentiva. Quanto àqueles que tiram a vida de outros, destes nem convém falar, porque, desconhecem “conceitos humanos” pois, por fora e por dentro ainda são animais irracionais. Quem já galgou algum degrau na repressão do animal que há no homem, sente-se muito indefeso para viver neste mundo. Esta sina desumana sempre foi seqüência. Deve ter tido um início, mas, nunca saberemos se terá um fim, a não ser para os pré-históricos iludidos com uma futura irmandade humana.

Altino Olímpio