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20/06/2006
A Psique Humana – Parte 14

Vamos conhecer mais um pouco das proezas da psique humana. Este fato a seguir ocorreu na cidade de Caieiras em julho de 1986. Como envolveu pessoas conhecidas da região, decidimos ser melhor usar pseudônimos para evitar constrangimentos desnecessários.
Alceu, um ano e oito meses viúvo, esteve na casa de um antigo casal conhecido, Gerson e sua esposa Zélia. Conversa vai e conversa vem, o Alceu ficou sabendo que a Zélia freqüentava um centro espírita, isso, sendo surpresa para ele. A Zélia enalteceu as qualidades mediúnicas de uma jovem chamada Lia que morava no centro de Caieiras e convidou o Alceu para conhecê-la. Ele titubeou um pouco, pois, não era dado ao espiritismo, mas, concordou. No sábado seguinte, no carro dele os três rumaram para a casa da Lia. Chegando lá, depois das apresentações, o Alceu começou a especular a Lia sobre os “dons” que ela possuía. Respondendo, ela informou-lhe que em outro Estado onde nasceu, desde criança estava habituada a participar de reuniões espíritas porque, seus pais tinham um “centro”. O Alceu logo pensou, “esta mulher, desde criança deve ter recebido muitas sugestões”.

Por volta das quatorze horas teve início os “trabalhos” na sala daquela casa da Lia e presentes estavam o Alceu, o Gerson, a Zélia, a Lia, seu marido e seu filho, um garoto ainda. O Alceu estranhou o fato de logo a Lia ficar “incorporada” porque, não viu aqueles costumeiros estremeliques que antecedem uma incorporação. A Lia, ou melhor, aquele que se dizia falar através dela, disse se chamar Eliomar e já estava desencarnado há mil anos. O Alceu lhe fez algumas perguntas sobre assuntos nada corriqueiros e se surpreendeu com as respostas certas que o Eliomar lhe deu. Ele respondeu as perguntas com coerência, mas, de antemão as respostas já eram sabidas pelo Alceu que fez as perguntas para testá-lo, prevendo que, por si mesma, talvez, a Lia não estivesse à altura de entender aquelas perguntas. Isso ele pensou. E o Eliomar continuou se explicando, “enquanto eu estou aqui meus auxiliares espirituais estão visitando todos os seus parentes para ver como está a sua situação”.
“Estranho” pensou o Alceu, “o que têm eles a ver com a minha vida?”

O tempo foi passando e de repente a Zélia começou a chorar. A Lia, ou melhor, o Eliomar falou para o Alceu: veja, é a tua esposa chorando, ouça o que ela tem a lhe dizer. A voz não era nada igual e nem tinha o mesmo sotaque de idioma misturado de quando sua esposa era viva. E a Zélia choramingando foi falando, “eu sei que ele tem uma namorada, mas, ele não pode abandonar os meus filhos, eles precisam muito dele, não me importa que ele tenha outra, mas, ele não pode deixar de cuidar dos filhos”. Gozado, a Zélia, isto é, a “falecida”, ela não foi direta com o marido. Ao tratá-lo de “ele” e não de “você”, pareceu mais se dirigir aos demais do que ao marido ali em sua frente. O Alceu ficou surpreso com aqueles assuntos jamais esperado por ele. Ele não foi na casa da Lia para fazer alguma consulta. Como combinado, ele foi lá para ver os “trabalhos” da Lia. Nunca havia pensado estar com aqueles problemas de abandono dos filhos. Nem imaginou que aquela seção espírita estivesse sendo para solucionar seus problemas, dos quais, causados pela falta da esposa, sabia serem eles temporários e suas soluções viriam com o passar do tempo, sem nenhum mistério.

Naquele sábado, aquela reunião demorou tanto e o Alceu não compareceu para jogar futebol de salão, onde sempre jogava das dezoito às vinte horas. Como era “necessário” voltar mais duas vezes, isso ele fez sem o casal Gerson e Zélia, na sexta-feira seguinte, à noite, para não perder o jogo de futebol no sábado. Afinal, a Lia e o marido eram muitos simpáticos e com eles o tempo decorria agradável. E assim a reunião espírita só teve a participação de três pessoas, a Lia, o marido e o Alceu. Deixando de lado os detalhes, o Eliomar incorporado na Lia repetiu o fato dele ter desencarnado a mil anos e enquanto eles estavam ali, seus auxiliares invisíveis estavam outra vez visitando os parentes do Alceu para averiguar como estava sua situação. Terminada aquela reunião e aquele contato auditivo com o espírito tão evoluído do Eliomar, o Alceu retornou para casa por volta da uma hora da madrugada, portanto, já sendo sábado. Leu num bilhete o seguinte recado: pai, assim que você chegar, telefone para o tio, o seu irmão, é urgente.

Estranho, o que de incomum estaria acontecendo? Era raro receber algum telefonema do irmão. O Alceu digitou os números do telefone dele, mas, quem atendeu a chamada foi a sua cunhada.
---Oi, é o Alceu. Cheguei agora e tem um recado aqui para... O que foi?
---O que foi? O teu pai estava passando mal e foi internado.
---Sério? Como ele está?
---Muito mal, ele está em coma. Nada escuta e não reconhece ninguém.
Depois dessa rápida conversa, no silêncio da sua casa e com os filhos dormindo, o Alceu, mesmo diante de uma circunstância que exigia respeito, não conseguiu deixar de achar graça quando se lembrou onde esteve e ouviu do Eliomar: “enquanto estamos aqui, meus auxiliares espirituais estão visitando os seus parentes e voltarão para me contar tudo o que virem a seu respeito”. O Alceu não teve como evitar deixar de dar risada, pensando no porque o Eliomar não o avisou que seu pai estava morrendo. Será que seus auxiliares haviam se perdido e não encontrado os endereços onde residiam seus parentes? Força de vontade eles tiveram, mas, coitados, aquela noite foi muito escura e eles devem ter ficado com receio de encontrar algum espírito zombeteiro para distraí-los de suas funções ou foram impedidos pelo “Caboclo Trancarrua”, o terrível e temível.

Tudo é possível acontecer quando a psique humana, mais evoluída, se transporta para o mundo imaterial e isso não é para todos. Muitos não possuem a facilidade para esse acesso transcendental porque, sofrem da doença chamada equilíbrio ou “pé no chão” que, nenhum psiquiatra consegue curar. Entretanto, vamos agora para as considerações do Alceu sobre esta sua aventura. A Lia lhe pareceu ser sincera e acreditar no que fazia, isto é, servir de invólucro para um espírito se introduzir nela e se manifestar através dela. Quanto à realidade do fato, ela pode ser bem diferente e a Lia não sendo criança ---talvez fosse--- deveria tentar descobrir para não viver enganada e sem querer, enganar outros também. Naquela época, ela não sabia que o Alceu já não era um “marinheiro de primeira viagem”. Trabalhava em São Paulo e lá já havia visto coisas “incomuns”. Já tinha participado de palestras e reuniões com pessoas tidas como “evoluídas” nesse “ramo” de “ciências ocultas”. Nunca se deixou impressionar por nenhuma delas, porém, se divertiu e riu muito das tantas imbecilidades que viu, ouviu e conheceu muita gente.


Altino Olímpio