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27/04/2006
Falou está Falado - Parte 2

Nesta época em que vivemos, o “não ter palavra” está muito disseminado entre nós e isso muito tem a ver com fraqueza de caráter e falta de respeito para com o próximo.Está sendo tão comum essa atitude desprezível que apenas uma minoria ainda se dá ao luxo de se manter fiel ao dever de cumprir o que falou ou prometeu. Essa minoria não tendo a mesma reciprocidade, sofre mais diante das condutas irresponsáveis daqueles do “falar e não cumprir”. Essa aberração da atitude humana, como sabemos, é mais destacada no meio político. Mas, deixando os políticos de lado, pior, a mesma aberração vemos inserida em muitos dos nossos “amigos” ou conhecidos. Quando um deles falando marca um dia para uma conversa e mesmo ela sendo mais do interesse dele, isso desencadeia no pensamento, uma preparação para a disponibilidade de recebê-lo no dia combinado. O dia chega e quem prometeu comparecer “se esqueceu”, não deu explicações ou pediu desculpas. Essa distração ou ignorância é típica dos irresponsáveis que, vazios como são, pensam que todos lhes são iguais para poderem ocupar suas mentes com o que falam e não vão cumprir e, portanto não vai acontecer. É um prejuízo mental sim! Quem ainda tem confiabilidade na “lembrança” de todos aqueles que aleatoriamente se predispõem para um comparecimento mesmo apenas amigável, além de aguardá-lo, gasta (joga fora) algum pensamento sobre a ocasião do compromisso marcado e sobre a pessoa que o provocou, para poder atendê-la conforme sua necessidade. Tudo em vão. Tudo perda de tempo. Entretanto, a pessoa que defeca palavras e não as cumpre, se insere nos pensamentos de quem acredita nelas. Deixar a imagem de uma pessoa “sem palavra” povoar em nossa cabeça ainda que por poucos momentos, é um prejuízo para outros pensamentos mais úteis.

Essas atitudes inaceitáveis desses seres humanos “civilizados” trazem uma vantagem. Cada vez mais deixamos de acreditar neles e deles mais nos afastamos. Numa próxima vez, num contato com um deles, nenhuma importância damos ao que ele fala e nada esperamos do que ele se propõe, escaldados que ficamos com a inoperância de seu caráter a vigiar o conteúdo de suas palavras que não terão subseqüência na objetividade de qualquer relacionamento humano do cotidiano. Infelizmente, o não “manter a palavra” destes nossos dias não é mais falta de educação. Ao contrário, é a educação que muitos estão tendo. O “fala que não estou” e o “logo te telefono para confirmar”, são frases tão comuns e tão mentirosas que fazem parte do viver de muita gente “boa” da nossa sociedade, e se bem lembrado, “Não Mentir” está entre os dez mandamentos sagrados. E comumente, muita gente mente para fugir da responsabilidade do que possa ter prometido, desprezando ou sendo inconsciente do dizer “És senhor das palavras que não pronunciaste e escravo das que proferistes” ou “És dono das palavras não ditas, mas, prisioneiro das que disse”. Sendo assim, que tranqüilidade, que imperturbabilidade é sentida naqueles mais afastados dos convívios humanos, vivendo mais protegidos desse epidêmico costume de “falar e não cumprir” já quase transformado em naturalidade humana.


Altino Olímpio