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22/03/2006
Súplica

Uma súplica escrita no século dezessete e que chegou até nós, dá uma idéia do fervor da fé e crença daquela época, conforme leremos a seguir:

“Meu Deus, minha Vida, cuja Essência o homem não está de modo algum preparado para conhecer ou investigar, mas, que, do Teu Reino como hóspede deve se aproximar com pensamentos mais humildes do que a sua petição; quando penso em como me desvio creio que é orgulho de minha parte orar. Como ouso aos Céus falar com certeza de com todos os meus pecados Tua atenção merecer? Mas, quando observo as toupeiras que às cegas em túneis se escondem e ali suas próprias prisões escuras constroem e removendo a terra para conseguir o ar, assim vejo minh’agrilhoada Alma, que com seu fardo de pó ---corpo--- tem de lutar”. Atende sua súplica e um raio acrescenta a esta encarcerada porção do teu dia. Assim, embora aqui aprisionada ela veria através de todo o seu pó, o Teu Trono e a Ti. Senhor, guia minh’Alma para longe desta triste noite, e diz mais uma vez, Que Haja Luz “.

Thomas Vaughan 1621-1665

Que dizer dessa obstinada procura por Deus? Sem ter sido um delírio, por acaso alguém já teve sucesso irrefutável dessa busca desesperada às vezes? O homem não sabe porque nasceu e só sabe que vai morrer. No período de sua vida, por que não vivê-la só com o que lhe é pertinente, isto é, viver a vida apenas só com o que ela possa proporcionar? O período de vida é curto demais até para que o homem possa satisfazer sua ambição por conhecimento ao nível que sua consciência comporta. Claro está que ela se expande, mas, nunca além dos limites com que seu intelecto possa assimilar e condicionar para o uso desta existência. O que existe e está aquém das capacidades cerebrais, bem ou mal não afeta a simples existência humana. A vida que faz todas as espécies orgânicas nascerem, crescerem e se manifesta através delas até elas morrerem, ela, ainda não foi decifrada pelo homem. Antes da busca por um possível criador da vida, elucidar essa “energia” não viria em primeiro lugar? Mesmo intrínseca no homem e até então indecifrável, decifrar o que está por detrás dela e é sua causa é mais possível?

Sucinto, o escrito até aqui com seus questionamentos, esteve ao nível da possibilidade da compreensão humana, porém, os incapazes de mesmo só isto compreender, às vezes são aqueles “sábios” das idéias insondáveis e indiscerníveis ainda para o estágio que a consciência humana evoluiu. E neste estágio, se é que ela evoluiu mesmo, ela se perde no “viver pelo acreditar” e nunca pelo saber real dos fatos, aqueles “existentes” somente para os privilegiados possuidores de fé.
Relendo o texto do Thomas Vaughan, nele percebemos uma súplica para afastá-lo da triste noite ---escuridão dos sentidos--- que qualquer um pode provocar para si mesmo quando transferem da existência para o âmbito da inexistência, seus problemas a serem resolvidos. Conflitos humanos, até prova ao contrário, são para serem resolvidos humanamente.


Altino Olímpio