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13/01/06
Necessidade Inutil

A necessidade de constantes contatos humanos, conversações, desabafos, falar apenas por falar, o tudo querer saber sobre outros, o que fazem, donde vão, o falar de si e transferir para outros, problemas, preocupações e mesmo alegrias e contentamentos, isso faz parte dessa carência humana tão comum destes dias, o se fazer notar, o eu também existo.
O sentir-se só, essa insatisfação quase epidemia, na impossibilidade de contatos diretos com outras pessoas, levam muitos ao telefone para descarregarem suas baterias que acumulam seus muitos assuntos “importantes” para outros que nem sempre querem escutar e se o fazem, é por educação ou respeito, esses dois combustíveis da paciência.
O falar de si mesmo, esse egocentrismo humano, pode ser uma tortura para quem detesta ouvir trivialidades, ainda mais quando elas são óbvias e particular de quem fala.
O sempre falar de si mesmo é a prática de gente comum que é calcada no se ser o foco principal da existência. Muitos abusam demais do “eu”, essa palavrinha mentirosa que engana qualquer um, fazendo-o pensar que é importante ao invés de lembrá-lo da falha em sua educação. É enjoativo ouvir de uma mesma pessoa: “Eu tenho, eu fiz, eu vou, eu comprei, eu paguei, eu construí, eu sou isso, eu sou aquilo, eu sou o dono, eu sou o gerente, eu faço falta, e etc”. Sobre tudo que uma pessoa egocêntrica ouve, ela responde assim: “Eu também tenho, eu também fiz, eu também vou, eu também comprei, eu também construí, eu também sou gerente, etc”. Esse “eu” nojento de uma pessoa assim, sempre está interrompendo um assunto porque o eu dela tem que estar de permeio a tudo o que existe e o que acontece. Primeiro é preciso ouvi-la sobre o “também” dela para depois se continuar o assunto, se ainda existir saco para isso.
Um ser assim, a gente tenta ignorar e quando não dá, a gente só escuta e ele diz que somos atenciosos, amigos, e ele não percebe que o saco dói, mas, paciência, vivemos em sociedade e nos utilizamos da hipocrisia dela para sermos cidadãos educados.
Têm outros perdidos em suas redundâncias, detalhistas, repetitivos e quando começam a falar sobre um assunto interessante, importante apenas para eles, ouvi-los, dá vontade de morrer. “Destrincha logo, já entendi onde vai chegar” é o que a gente pensa e não fala.
Se todos só abrissem a boca quando fosse necessário o mundo seria melhor. Deveríamos falar de nossos problemas somente para quem possa solucioná-los e não para qualquer um com quem encontramos, pois, até podem complicá-los mais com seus palpites.
Assunto interessante ou importante, apenas, deve-se levá-los para outros que se interessam pelos mesmos ou também estejam envolvidos nos mesmos e assim somos recíprocos na troca de informações numa conversa útil e não fútil.
Atualmente, isso é querer demais, neste mundo feito para quem fala mais e é um inferno para quem tem que escutar se não pode evitar.
Se a gente só falasse o que é apropriado para outro ouvir e só ouvisse o que nos é apropriado, todos seriam agradáveis e bem-vindos.
“Meu” é outra palavrinha insuportável de ouvir. Meu isso, meu aquilo. Qualquer assunto é interrompido pelo “o meu também, a minha também” e o mundo está repleto de “meus” e “meus também” que ficaram por aí abandonados pelos “proprietários” que morreram e os seus “meus e meus também” passaram a ser de outros que destruíram ou ampliaram aqueles “meus e meus também”. E assim, sempre os “meus e teus” continuam enquanto seus donos continuam morrendo. E o mundo está mesmo mais para os tagarelas.

Altino Olímpio