A necessidade de constantes contatos humanos, conversações,
desabafos, falar apenas por falar, o tudo querer saber sobre outros, o que fazem,
donde vão, o falar de si e transferir para outros, problemas, preocupações
e mesmo alegrias e contentamentos, isso faz parte dessa carência humana
tão comum destes dias, o se fazer notar, o eu também existo.
O sentir-se só, essa insatisfação quase epidemia, na impossibilidade
de contatos diretos com outras pessoas, levam muitos ao telefone para descarregarem
suas baterias que acumulam seus muitos assuntos “importantes” para
outros que nem sempre querem escutar e se o fazem, é por educação
ou respeito, esses dois combustíveis da paciência.
O falar de si mesmo, esse egocentrismo humano, pode ser uma tortura para quem
detesta ouvir trivialidades, ainda mais quando elas são óbvias
e particular de quem fala.
O sempre falar de si mesmo é a prática de gente comum que é
calcada no se ser o foco principal da existência. Muitos abusam demais
do “eu”, essa palavrinha mentirosa que engana qualquer um, fazendo-o
pensar que é importante ao invés de lembrá-lo da falha
em sua educação. É enjoativo ouvir de uma mesma pessoa:
“Eu tenho, eu fiz, eu vou, eu comprei, eu paguei, eu construí,
eu sou isso, eu sou aquilo, eu sou o dono, eu sou o gerente, eu faço
falta, e etc”. Sobre tudo que uma pessoa egocêntrica ouve, ela responde
assim: “Eu também tenho, eu também fiz, eu também
vou, eu também comprei, eu também construí, eu também
sou gerente, etc”. Esse “eu” nojento de uma pessoa assim,
sempre está interrompendo um assunto porque o eu dela tem que estar de
permeio a tudo o que existe e o que acontece. Primeiro é preciso ouvi-la
sobre o “também” dela para depois se continuar o assunto,
se ainda existir saco para isso.
Um ser assim, a gente tenta ignorar e quando não dá, a gente só
escuta e ele diz que somos atenciosos, amigos, e ele não percebe que
o saco dói, mas, paciência, vivemos em sociedade e nos utilizamos
da hipocrisia dela para sermos cidadãos educados.
Têm outros perdidos em suas redundâncias, detalhistas, repetitivos
e quando começam a falar sobre um assunto interessante, importante apenas
para eles, ouvi-los, dá vontade de morrer. “Destrincha logo, já
entendi onde vai chegar” é o que a gente pensa e não fala.
Se todos só abrissem a boca quando fosse necessário o mundo seria
melhor. Deveríamos falar de nossos problemas somente para quem possa
solucioná-los e não para qualquer um com quem encontramos, pois,
até podem complicá-los mais com seus palpites.
Assunto interessante ou importante, apenas, deve-se levá-los para outros
que se interessam pelos mesmos ou também estejam envolvidos nos mesmos
e assim somos recíprocos na troca de informações numa conversa
útil e não fútil.
Atualmente, isso é querer demais, neste mundo feito para quem fala mais
e é um inferno para quem tem que escutar se não pode evitar.
Se a gente só falasse o que é apropriado para outro ouvir e só
ouvisse o que nos é apropriado, todos seriam agradáveis e bem-vindos.
“Meu” é outra palavrinha insuportável de ouvir. Meu
isso, meu aquilo. Qualquer assunto é interrompido pelo “o meu também,
a minha também” e o mundo está repleto de “meus”
e “meus também” que ficaram por aí abandonados pelos
“proprietários” que morreram e os seus “meus e meus
também” passaram a ser de outros que destruíram ou ampliaram
aqueles “meus e meus também”. E assim, sempre os “meus
e teus” continuam enquanto seus donos continuam morrendo. E o mundo está
mesmo mais para os tagarelas.