Trirm... trirm... trirm...
--Alô! Pronto!
--Ocultista, é você?
--Sim Hierofante! Tudo bem? Pode falar.
--Teu telefone sempre está ocupado e... ...
--É a Telefônica faturando, mas, resolveu aquele
teu problema?
--Ainda não, mas, muito tenho refletido sobre as mulheres.
--Vê lá se isso é motivo para reflexão!
--É sim! Cheguei à conclusão que elas
são metade diabo e metade burro.
--Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ... .
--Você ri... ah,ah, ah, mas... ah,ah, ah, mas não
é isso mesmo? Nunca sabemos qual a metade delas que está atuando.
--Como você gosta de generalizar. Tua comparação
–por exemplo—não se restringe à nossa amiga do Bairro
dos Jardins. O marido dela não pensa como você, ele não
a considera metade diabo... quero dizer, mulher diaburro como você diz.
Ela é muito fina.
--Diaburro! Ah, ah, ah, gostei da junção. Ah,
ah, ah.
--Te digo mais, com ela, nada consegues.
--Nunca me passou pela cabeça, pois, o casal é
muito amigo.
--Que frase bonita, mas, não foi a tua interferência
com outro casal amigo, o motivo das tuas reflexões?
--Ah eu sabia! Tua censura estava demorando! Foi ela que me
seduziu, já te falei!
--Falou, eu sei! Porém, é de admirar que, um
cinquentão como você, detentor dos mais altos ideais, membro antigo
de uma fraternidade mística e com uma mente privilegiada, esteja sofrendo
por uma terráquea qualquer.
--Pare! Gozação comigo não! E ela não
é uma qualquer. É bonita, culta, psicóloga e esposa de
um psiquiatra, muito viajada e... ...
--Tá bom! Eu corrijo. É uma qualquer bem sucedida.
Intimamente você envolveu-se com ela e nem ligou para o marido, seu amigo
como você diz.
--É verdade, entretanto, tivemos belos momentos.
--Ah os momentos! Depois deles dá-se uma chacoalhada,
e cadê os momentos? Respondo: eles sumiram.
--Mas como você é frio!
--Com esse tipo de mulher sim! Sinto muito, mas, durante anos
fostes um instrumento de prazer e como, apaixonou-se, fostes um instrumento
gratuito e agora ficas aí como uma minhoca partida.
--O que queres dizer com isso?
--Você nunca foi criança? Quando se corta uma
minhoca pelo meio, não parece que suas duas partes ficam debatendo-se
tentando reatarem-se?
--De fato... ... só, que ela... ...
--Te dispensou eu sei e tu não aceitas.
--Sim, mas não é tão simples como você
pensa.
--Ô meu! Cai fora! Ela te usou e tu tornou-se impertinente
agora que a parte diabólica dela está preocupada com a partilha
do patrimônio, visto que, o casal está se separando e segundo depreendi,
nem fostes a causa.
--Não! Não! Nosso caso é muito sério,
é uma continuação de outras encarnações.
Ela deve ter; fortes motivos para não mais me receber. Eu quero e ela
deve-me explicações!
--Continuação de outras encarnações?
Mas isso é delírio! Se já não bastasse os problemas
com esta vida, você também quer estende-los para vidas passadas?
Cuidado! Essas divagações são perigosas.
--PARE! Você não está à altura para
discutir estes assuntos comigo!
--Mas foi você que misturou problemas passionais com
abstrações mentais. Pise no chão! Se liga cara, ela te
dispensou!
--CHEGA! Não da mais para conversar contigo! ... Clik.
“Desligou... gozado, sempre eu que pago o pato.”
Este conto, baseado em fatos reais, lembra-me de um amigo meu
que morreu.