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01/12/05
Partir Algemas

Como, onde e com quem estamos, é a nossa situação do viver, sem se perguntar porque estamos, onde estamos, porque estamos com quem estamos, sem se preocupar como estamos.
Uma vez, um filho perguntou ao pai:
- Pai, o que é viver?
- Viver é viver, o que mais eu não sei!
- Mas, se você não sabe, porque colocou-me neste mundo?
- Porque igual como você, eu vim também, É a vida.
- Então pai, a vida é seqüência sem se preocupar com conseqüência? Outro poderá vir através de mim, mesmo sem eu saber porque vim?
- E filho, nunca pensei nisso, mas é assim mesmo. Talvez se soubéssemos por que e para que viemos, não gostaríamos que outros viessem através de nós.
- É pai, naquele ato reprodutor à dois, o instinto tudo domina e apaga a razão do se prevenir de uma conseqüência, que é o surgir de uma outra vida.
- Espere um pouco filho... ... você se sente infeliz? Te dei conforto e condição para estudar. Porque esses pensamentos que poucos ou nenhum filho dirige ao pai?
- É verdade! Porem, a intenção pela minha instrução não foi para manter a continuidade de meu conforto e estendê-los à meus possíveis descendentes?
- Claro! Qual é a novidade?
- Nenhuma! Não lhe ocorreu que eu posso me desvencilhar desses objetivos que você espera de mim?
- Não porque faria isso?
- Porque pra mim tudo é imbecilidade.
- Mas que absurdo, meu filho!
- Ah... ... não é não. O manter-se no esquema da continuidade do “ter” significa um existir esquecido do “ser”.
-Que bobagem! Neste mundo, se não se tem não se é.
- Concordo pai! Mas isso é que é absurdo, ter para ser! Mas, esse ter para ser não é para se fazer notar para... outros? Os outros, que importância eles têm?
- Olha filho, nunca penso nesse assunto e acho que ele não é bom para o nosso viver. Se tivesse me dedicado à ele, talvez fosse outra a situação desta nossa estabilidade.
Toma cuidado! Deixe o céu para os passarinho, para os aviões e para os anjos.
- Obrigado pelo conselho, porém eu sei que para a maioria, só é “pé no chão” quem encaminha-se para conquistas materiais.
Entretanto te pergunto: como será o fim da vida de alguém que tanto acumulou? Sincero consigo mesmo, não diria que não valeu a pena?
Se quando moribundo pudéssemos ver-lhe os pensamentos, veríamos propriedades, poupança, disputa, preocupações, problemas, filhos, netos e etc.
Tudo com que ele viveu por eles e eles, o tudo que lhe existe, existe por si mesmo sem ser por ele.
- Não entendi bem, mas, parece que você está sendo cruel.
- Que nada pai! Tens medo da realidade? Dei-lhe um exemplo de um alguém bem sucedido, igual a tantos que se tornam exemplos a serem seguidos.
- E o que tem de errado nisso?
- Pra você nada, mas, somos diferentes.
Eu prefiro ir para o inferno com minhas pernas do que ir para o céu com as pernas dos outros.
- Filho, você quer modificar o mundo?
- Eu não! Existindo quase sete bilhões de pessoas, você pergunta isso pra mim?
Pergunte para aqueles que aconselharam “crescei-vos e multiplicai-vos”. Multiplicaram-se demais, simultaneamente com o desemprego, a fome, a falta d’ água, poluição e tudo mais. Tornaram-se um câncer destruindo o planeta.
- Concordo mas... e daí?
- Daí Reconheço tudo o que fizeste por mim. Só que, este viver padronizado, aprisionante, é uma tortura pra mim.
Parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos, todos, só são repetitivos, igualados em suas mediocridades. Não agüento mais, por isso... vou embora!
- Filho, em todo o lugar do mundo é assim!
- Eu sei! Mas partindo, quebro todos os vínculos que são referencias deste viver nivelado, massificado.
- Mas, você tem família e...
- Família pai? Isso é conformismo, comodismo. É para os fracos que são programados e não sabem. Família é o ampliar do vitimismo da luta pela sobrevivência tão escravizante de hoje. Tô fora!
- ... No fundo, sempre soube que você era diferente de seus irmãos e parece que sabia que este dia iria chegar sem poder te impedir.
- Não lamente pai! Não vou morrer, só vou embora por este mundo afora.
- Que vai ser de você, filho?
- Não sei, isso não importa. Só sei que eu quero ser eu mesmo, coisa que ninguém mais é.

Axiomas

O que somos revela-se nos pensamentos que temos que outros nos fazem pensar.
Consigo mesmo alguém existe?

Participantes dos mesmos costumes somos sociedade. O caminho da liberdade é a saciedade da sociedade.
Do misturar com outras vidas, uma delas poderá ser o leme para nossa vida.

Quando queremos ser o leme para outra pessoa, remamos para o rumo de nossas incertezas.

Como num mar revolto a juventude é um leme descontrolado atracando-a no porto das ilusões.

Gasto pelo tempo, na velhice o leme nos conduz ao porto solidão de nossas resignações.


Altino Olímpio