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01/12/05
Filossofismando

Numa noite, numa pizzaria da Av. Brigadeiro Luiz Antonio ( São Paulo), enquanto meu amigo falava, eu comia. Atento sem interrompê-lo, o ainda monólogo desenrolou-se conforme fui ouvindo:
- Fui piloto, sou advogado, dediquei muitos anos de minha vida á Ordem Rocracruz, sou maçom, li muito, mas, cheguei á poucas conclusões. Atualmente (1991) tenho pensado muito sobre a razão da existência. Estou escrevendo um livro e...gostaria que você prestasse atenção.
Como você sabe, o homem daqui deste planeta, apropria-se de tudo, conforme sua necessidade ou prazer.
- Sim, claro! Isso é óbvio.
- Quanto aos animais, come sua carne, industrializa o resto, quanto não os mata por esporte. Como vês, tendo predominância, o homem usufrui de tudo que existe. Não existirá ele também para um propósito parecido?
- Como assim, não entendi! Explique-se melhor.
- Algo inimaginável, inominável, superior, à nós e inacessível à nossa razão, será que também não se apropria dos atributos da nossa vida nesta existência?
- Não sei e nunca pensei nisso.
- O homem mata, rouba, guerreia e todas as aberrações pratica, mesmo sabendo ser errado. Por tudo isso, concernentes aos sofrimentos gerados, emoções de revolta, ódio ou tristezas são liberadas, digamos, para a atmosfera. Minhas cogitações levaram-me a imaginar que algo monstruoso, muito além de nossa compreensão e impossível à especulação humana abranger, esse "algo monstruoso" seja lá o que ou como for, se apropria e se alimenta da vibrações liberadas através de nossas emoções, como o homem, apodera-se das criaturas inferiores à ele, para benefícios material.
Essas cogitações, sei de que parecem delírios, serviu-me até para atenuar a culpa das tantas atrocidades cometidas entre os seres humanos - o ápice da criação. E sempre me vem na mente aquela famosa frase de Jesus:
"Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem."
- Barbaridade! Que abstração medonha! Se estivéssemos na época da inquisição, teríamos uma bela fogueira. E você até está escrevendo um livro e o que é pior, irão ridicularizá-lo.
- Sim, isso eu sei! Mas aqui vale lembrar o que disse Lichtenberg:
"Reflexões como essas são como um espelho: se um burro se mirar nele não se pode esperar que a imagem refletida seja de um anjo."
-Ah, ah, ah! Já li isso mas, enquanto você discorria sobre suas "cogitações", lembrei-me do Gurdyeff.
Ele escreveu que, para impedir a evolução mental ou espiritual do homem, a Natureza cria-lhe obstáculos os mais diversos, pois, quando o homem evolui, deixa de alimentá-la com sua energia.
Essa "energia" pela qual se refere o Gurdyeff, não tem semelhança com as vibrações liberadas da emoções humanas, das quais, o seu "algo monstruoso" se apropria e se alimenta?
Como deves concordar, o homem quando adquire o auto-domínio, controla suas emoções e não mais as libera como a maioria faz. Por isso é que um homem controlado é tido como um ser humano frio.
- Pode ser, sendo como você...
- Espera! vou completar meu raciocínio, claro que, baseado nessas abstrações.
Gurdyeff dizia que a Natureza se alimenta da energia humana. Como qual e que tipo de energia? Não sei! Ele não especificou.
Alguns místicos da passada, declararam que a terra, perante o Universo, é um ser vivo. O que é a natureza senão a própria terra?
Concluindo e ainda me mantendo num plano fictício, desconfio que esse seu "algo monstruoso" bem que poderia ser o nosso próprio planeta. Até Schopenhaver na sua Filosofia, explicou que, para a natureza, só interessa a reprodução da espécie e não está preocupada com ideais, anseios ou realizações humanas. Então...
- Irmão p. q. p! Você é um desmancha prazer. Se eu me utilizar dessa tua argumentação... então... casseta!
O mérito não será meu!
- Calma frater! Fica frio, vá em frente! Termine o livro, também porque, papel aceita qualquer cocô. Dentre milhões de cocôs espalhados entre milhões de livros, o teu poderá se sobressair.
Chega de... parole, parole, parole.
Para voltarmos à realidade, nada como comer pizza.
- É mesmo! Afinal viemos aqui pra isso.
- E com tranqüilidade, fugitivos que somos dosgoteiras que são os demais irmãos.

Altino Olímpio