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07/11/05
Reflexões da Juventude

Tudo começa quando nos tornamos autoconscientes, isto é, crianças ainda, percebemos o mundo, embora restrito ao meio ambiente onde vivemos, quando quase tudo se restringe a nossa maneira despreocupada de viver, pois sutilmente sentimo-nos protegidos por nossos pais, envolvidos com a exploração do imenso desconhecido, amados como somos pelos nossos entes queridos, graciosos a eles pela nossa inocência e ingenuidade, vivemos nós naquele encantamento, inconscientes das agruras reservadas pela vida futura.
Logo nos deparamos coma primeira e longa obrigação importante, pois não há como evitarmos, pois é pertinente à todas as crianças, adquirir instrução. Temos então de ingressarmos na escola, onde vamos treinar nossa mente para desenvolver nossa capacidade de raciocínio. As diferenças entre nós começam a surgir, pois, sentimos as desigualdades quanto ao comportamento de uns alunos e no melhor aproveitamento do ensino por outros.
A nossa inocência e a nossa ingenuidade de criança, preponderantes até então, principiam a desvanecerem diante da nossa observação referente ao desnível financeiro e intelectual entre os alunos, indiferente aos fatores entre si.
Nosso condicionamento familiar foi ampliado pelos nossos contatos com outras crianças e pelos professores, cuja responsabilidade é muito grande, agravada pela precariedade atual de recursos do setor de ensino publico no país.
Muitos de nós, pelas circunstâncias desfavorecidas, ainda jovens, precisamos trabalhar durante o dia e estudarmos à noite, intensificando assim, a atenção ao nosso mundo externo, para evitarmos quaisquer distrações, podendo as mesmas, levar-nos à sofrer possíveis acidentes, fatais as vezes, nestes dias tumultuados desta época, quando nos deslocamos para cumprir diariamente nossas incumbências.
Nas distancias percorridas para o trabalho ou para a escola, somos barbaramente condicionados à conduções superlotadas onde, forçosamente partilhamos com pessoas desprovidas de caráter e de respeito ao próximo.
Se por outro lado tivermos condução própria, talvez adquirida com sacrifício pelos nossos pais, o preço dos combustíveis e o transito violento, dificultam desenvolver nossas capacidades. Aqueles da boa educação provinda do lar, sofrem o impacto ao assistirem cenas lastimáveis e antagônicas à seus princípios, quando de seus translados.
Movidos por nossa energia jovial, parecemos conviver com os transtornos impostos pela sociedade, sem nos queixarmos pois, nas nossas conversas descontraídas não transparece nosso descontentamento, porem transparece, inconsciência circunstancial.
Por esses poucos exemplos, nessa fase de nossa existência já perdemos quase totalmente a inocência e ingenuidade.
Já côncios da luta à empreender para nossa sobrevivência muitas vezes desleal e cruel, a competição decepciona-nos.
Concernente a todos, já vislumbramos ser a existência, repleta de problemas pertinentes à nossas responsabilidades.
Nossa vida esta amplamente condicionada às nossas ocupações profissionais, cuja plena realização nem sempre depende das nossas capacidades, como é notório naqueles bem sucedidos, favorecidos por “influências”. Sendo assim, será possível adquirirmos controle sobre nossa própria vida e destino?
Mas, nem tudo é desagradável, pois temos nossos sonhos e ilusões de jovens para amenizar nossas preocupações quanto às dificuldades de realização. Sonhamos com um destino melhor, amar e ser amado por alguém, ter uma vida confortável e construir uma família, baseada nos mais nobres ideais, pertinentes ao nosso condicionamento adquirido até então.
Temos momentos de devaneios ao ouvirmos musicas, quando desfrutamos a companhia de pessoas queridas, otimistas e alegres a quem muito estimamos. Também temos latente o sentimento de dádiva pelo viver e viver por si só e confortante.
O tempo nunca pára e não sabemos quando nos tornamos adultos pois, não existe na nossa idade formal, um limiar para enquadrar o momento consciente da lenta passagem da juventude para a maturidade, e essa passagem, quanto ao tempo de existência de cada um, não é igual para todos.
Talvez o amadurecimento principia ser perceptível, quando paulatinamente vamos perdendo as ilusões e nossos sonhos aos poucos vão desvanecendo-se, tendo como predominância, a cruel realidade existencial, quando começamos a questionar sobre tudo até então aprendido, quanto sua aplicação pratica no mundo o qual nos deparamos.
Nossos meios de comunicação (a mídia) nos bombardeiam com transmissões tendenciosas com cenas visuais de violência, com cujas quais, nos tornamos familiarizados e o pior, acatando-as como sendo comuns no nosso viver, distorcendo-se assim, os valores reais existenciais.
As novelas de baixo nível colaboram para a desintegração moral da família, dando muita ênfase à libertinagem, conquanto dão enfoques destacados às intimidades sexuais, insinuam também, intimidades sensuais com seres do mesmo sexo, quando não, extrapolam insinuando relacionamentos incestuosos.
Esses péssimos exemplos, o povo a tudo assiste, comenta com indisfarçável conivência e sem qualquer indignação, uma grande parcela dele, copia-os.
Ainda persiste a pergunta: contudo, será possível adquirirmos controle sobre nossa vida e destino?
Inconscientemente fomos sugestionados a conviver e participar de uma sociedade de competição, comparação e individualização, conseqüentemente resultando na desunião entre as pessoas, tornando-as solitárias e desprovidas do sentimento de solidariedade. Só são consideradas as pessoas de posses, as “vencedoras”. As menos favorecidas são relegadas ao desprezo ou ostracismo, visto serem “fracassadas”. É o mundo focalizado no “ter” ao invés do “ser”.
Na auto-avaliação - como fomos, somos ou seremos - surgem os estados de abandono, causados pelo receio de não conseguirmos realizar nossos anseios, mesmo os mais básicos.
Pelos desejos irrealizados, sentimos a vida confusa e desestruturada. Pertinente, às vezes somos acometidos de angustia, sendo ela na maior parte das vezes, para os mais fracos dentre nos jovens, o motivo principal para o envolvimento com as dependências do vicio, complicando mais a nossa adaptação ao acelerado desenvolvimento tecnológico da civilização.
O caos imperante no nosso país, sabemos, foi provocado pelos eleitos lideres administrativos, aqueles preocupados apenas com seus anseios de “poder” e enriquecimento ilícito.
São responsáveis pela nossa vida mais difícil e pelas insatisfações perdurantes, cuja inquietação nos parece perpetua.
E o povo vive repetindo a palavra “democracia”, mas age como se ela fosse um sinônimo de “baderna”.
Também somos aconselhados à ingressar nalguma religião se não temos nenhuma, mas, suas teorias parecem inoperantes no cotidiano. Conhecemos a síntese do Novo Testamento: “Amar o próximo como a si mesmo e amar a Deus sobre todas as coisas”.
Repetidas diariamente, essas frases ficam só na teoria e jamais atuam na pratica, conforme vemos.
As religiões... serão elas necessárias?
O mundo tornou-se barulhento, com seus habitantes falando demais, e o obvianismo é preponderante onde eles estiverem.
Como podemos confrontar nossa existência com a atual realidade? Estaremos preparados para a transição de jovens para adultos quando ela ocorrer? Com nosso despreparo, duvidas, temores e indagações, teremos condições para construir e mantermos uma família, a célula da sociedade?
Enfim, quando formos adultos, talvez também não tenhamos tempo e interesse para as... ... Reflexões da Juventude.

Altino Olímpio