A maioria das casas da Vila Leão, tinham nos fundos um barracão. .Alguns eram bem bonitos, como o de nossa vizinha Dona Elvira( esposa do Bentinho), bem grande, de madeira boa, muito bem organizado e de chão de cimento.O nosso ao contrário ,era simples,pequeno e feito de sobras de madeiras e tábuas.O teto era de zinco com alguns furos que em dias de chuva sempre provocavam goteiras.O chão era de terra batida que de tão varrida parecia um assoalho brilhante.Ficava depois do portão que dava acesso ao quintal. Ficava encostado na divisa com o barracão bonito da nossa vizinha.Era tão pequeno,que parecia um cubículo entulhado de coisas.Ali ficavam as enxadas,as pás , todas as ferramentas do meu padrinho Juca (José Albino de Oliveira),latas vazias, e tudo que, numa hora qualquer, pudesse ser útil. Lembro assim de uma peça interessante que, aos meus olhos de menina, de 5 ou 6 anos, era realizador de uma verdadeira proeza.Ficava presa numa bancada de madeira bem antiga,dessas que hoje custam uma fortuna em casas de antiguidades. Era uma máquina manual bem estranha.Não era máquina de costura como aquela da minha madrinha, mas tecia da mesma forma.Só que tecia as telas de arame tão utilizadas naquela época, nas casas da vila .Meu padrinho, nos momentos em que não estava trabalhando na Melhoramentos, estava naquele barracão trabalhando com aquela peça. A máquina, cujo nome não me lembro, era de ferro, em forma de cilindro bem estreito e possuía uma manivela também de ferro.Um arame era introduzido num pequeno orifício e à medida em que ele manivelava, este mesmo arame saía na outra ponta já todo contorcido.O arame seguinte seguia o mesmo rumo e rapidamente se enroscava no da frente já pronto.Nesta sucessão de movimentos a tela ia se formando com diversas maniveladas e arames, num zigue- zague divertido e bem direcionado nas mãos hábeis do meu padrinho. Nunca entendi a mecânica daquilo, mas passei muitos momentos ali assistindo a estranha tarefa dele. Gostava de assistir a façanha até o final quando a tela pronta se transformava em cerca para o galinheiro ou num novo quarador de roupas para minha madrinha.O barracão foi talvez um recanto do meu padrinho, pois tantas vezes o vi ali executando suas telas ou consertando alguma coisa.Mesmo sendo um local apertado e cheio de tranqueiras,eu sempre encontrei um cantinho pra ficar observando.Hoje penso que aquela sua máquina de fazer telas deveria ter sido guardada como lembrança, afinal confeccionou e serviu de ferramenta para grandes obras.Fez parte da história daquele local e da nossa casa. Saudosamente comento esta passagem e com orgulho afirmo que o trabalho do meu padrinho era a representação de sua competência e de seu esforço.Obras de um homem bom,trabalhador e que fez da necessidade uma aptidão.Aptidão para criar as mais interessantes obras em telas de arame.
FATIMA CHIATI.