Nadando no passado
Nunca soube o nome (se é que tinha) daquela vila à esquerda e antes de chegar ao topo da subida onde existia e ainda existe solitária a Igrejinha de São José. Lá mais só moravam os “chefes” da Cia. Melhoramentos. Entrando naquela vila pela rua a logo ficar em declive, antes do fim dela ao virar à esquerda era o caminho estreito a terminar na piscina dos alemães, assim como era conhecida. Era de água fria de nascente de um córrego que fora represado. Num dos lados da piscina o chão era de pedra. Sendo enorme, era subterrânea por baixo da mata e das árvores até se sobressair visível num pequeno espaço para depois inclinar-se ao submergir até o fundo da piscina. Do outro lado o terreno ia sendo aclive tendo nele altas árvores plantadas a serem utilizadas pela indústria. Na mata baixa e selvagem ao redor delas, as vermelhas amoras silvestres eram degustadas sob as sombras e os cantos dos pássaros. No meio da piscina, sendo uma ilha, outra pedra havia sobressaindo-se do nível d’água onde estava instalado o trampolim. A quantidade de água vinda das nascentes para encher a piscina, para mantê-la sempre cheia tinha vazão igual através da comporta. As águas ao fluírem pela comporta transformavam-se no córrego a divisar e “cortar” os quintais com hortas e galinheiros entre os moradores da Vila Pereira e os do mais acima do Bairro Chique. O córrego como córrego morria quando ao fim de seu trajeto misturava suas águas com as águas do Rio Juquery. A piscina onde também havia peixes houve quem pescava por lá. Alguns encontros proibidos... Ah, isso é outro assunto. Aquele local era um encanto, propício mesmo para reflexões quando ausente de outras pessoas. Lá não era para qualquer um, mas, a “molecada” lá comparecia as escondidas protegidas pelas bóias mais modernas da época. Eram “fabricadas” com latas de óleo de cozinha vazias tendo seus buraquinhos tapados com cera de abelha ou outro produto. O nadar as escondidas às vezes atraia um “fiscal” da Cia. para atropelar os ousados filhos dos operários, mas, não sempre. Soube de um fato quando um rapaz conhecido pelo apelido de “Rato” e filho de um conhecido funcionário da fabricação de papel estava se afogando e o Goliardo Olimpio o salvou. Se me lembro e se não me engano, os tapas-furo das latas de óleo falharam e elas se encheram d’água deixando de ser bóias. Ah piscina da saudade... Como tudo passa e nada fica como era, as obras para a construção da “Rodovia Bandeirantes” a passar pelo local veio para completar o desaparecimento dela. E só agora me lembrei, descrevi o acesso a piscina por aquela vila dos chefes da Cia Melhoramentos porque esta crônica era para ser sobre o “Chalé da Piscina” e não tanto sobre ela. Poderia e teria sido mais fácil escolher como acesso o Bairro Chique, este, o mais usado pelos penetras. Quanto ao “chalé” ficaremos devendo uma história romântica sobre ele.
Altino Olympio
Sobre a crônica de Altino Olimpio, Nadando no passado:
Lembro-me bem desta rua onde os chefões da Melhoramentos residiam. Lembro também do Bairro Chique. Tive uma professora de 2º ano primário que morou lá. Ela chamava-se Neide Biscegli Pitombo. Um dia,em 1.965,após a aula em ela me levou em sua casa para brincar com a filha Flávia que também estudava no Grupo Escolar Alfredo Weiszflog.
Nossa fiquei deslumbrada com a casa enorme com jardim e um gramado muito lindo.As casas da Vila Leão eram simples porque lá residiam os trabalhadores mais humildes, braçais, como meu pai, meu padrinho e tanto outros.
Não me lembro da piscina dos alemães.Sai de lá muito cedo, com 08 anos e meio mudei-me para a Crescíuma e por isso não tive muito tempo de explorar toda aquela maravilha de lugar.Mas lembro-me que aos domingos muitas vezes nosso passeio era pelo Bairro Chique ou na Ponte Seca. Nossos olhos se encantavam com as casas bem arrumadas e cheias de flores e plantas.
Por isso adoro as descriçoes destes locais, feitas tão bem pelo Altino. Lendo-as me transporto e consigo sentir até perfumes e ouvir sons que naquela época encantavam a vida de todos nós .
Fatima Chiati