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Crianças obedientes

Quando se era criança se fazia o que os adultos queriam. Antigamente eles ensinavam a pedir bênção a todos os tios e avôs. “Benção tio, benção avô”. As mães exigiam: Filho peça a bênção para o tio. Sem saber o que era isso a criança pedia a tal de bênção e nenhum tio a tinha para dar. Deus te abençoe, eles respondiam. Coitado de Deus, já tão velhinho lá no céu cochilando, ao escutar “Deus te abençoe” tinha Ele que descer aqui na terra e dar a bênção pra criança. Cada coisa não? Quando criança sempre eu pedia bênção para um tio e ele também, como sempre, transferia o pedido para Deus: “Deus te abençoe”. Só que, ele era ateu e o coitado pra me agradar mentia como se ateu não fosse. Na presença de outro tio a ordem era a mesma: Filhinho pede bênção pro tio. Puxa-vida, o tio era bêbado e não saia da zona e devia mesmo ter muita bênção para dar. Pior de tudo é que era costume ao pedir a bênção ter que beijar a mão deles. Naqueles tempos idos, em Caieiras onde nasci à maioria das pessoas só tomava banho uma vez por semana, comumente aos sábados. Talvez, por isso, os homens viviam coçando o saco quando colocavam a mão no bolso da calça e este sempre estava furado. Nessa condição contagiosa é que os sobrinhos beijavam-lhes a mão ao pedir-lhes a bênção. Uma vez eu fiquei bravo e falei: Olha aqui mãe, eu não peço mais benção pros tios porque nunca eles dão. Sempre falam a mesma coisa “Deus te abençoe”. Fala ai onde Deus está que vou pedir direto pra Ele. Entretanto, depois de tantas vezes pedir bênção para os tios, não é que graças a eles hoje sou abençoado, juro por Deus. Nunca se deve duvidar do que os adultos sabem e ensinam para as crianças. Crianças com crianças sempre se entenderam bem.

Nota;(Por: Edson Navarro) O Altino, último filósofo caieirense vivo, tem a mania de imputar meias verdades nos textos que escreve, não raro confunde sua vida pessoal com a dos outros e generaliza tudo. Vejam por exemplo o determinismo que ele usa em afirmar que a maioria das pessoas só tomava banho uma vez por semana, o brilhante filósofo esqueceu de contar das viagens à praia grande, principalmente de seus familiares, onde era comum depois do banho de mar que durava o dia inteiro para aproveitar bem, ficar no mínimo uma semana com o sal no corpo, sem nenhuma agua doce, portanto nessas ocasiões beijar as mãos dos tios que coçavam o saco, não tinha problema nenhum , estavam devidamente desinfectados.


Altino Olympio