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15/09/2009
Malas artes

O lugar era aquele de sempre das nossas histórias. Dois meninos quando à noite iam até a portaria de entrada da fábrica de papel para levar café e lanche para os pais que estavam trabalhando no turno de doze horas, na volta, já perto e antes de suas casas ficavam as casas do Vitório Olimpio, marido da Dona Lucinda e pai do Valdemar, do Goliardo, da Dirce e da Jurema Olimpio. Vizinho colado a ele ficava o Antonio Gabriel, esposo da Dona Emília e os filhos Carlos (feijão), Elizinha e Edna. Depois, Dona Nicácia Roque, viúva, e os filhos Lázaro, Alice e Ivone. A seguir, morava o Vicente Lisa e a Dona Gioconda com os filhos Leo, e outros dois mais conhecidos pelos seus apelidos, o Tcham e o Chupetino. A penúltima casa era do Luiz Molinari e Dona Vitória com os filhos Antonio, Luiza, Alice, Dario, Ditão e Renato Molinari (gato). Na última dessa fileira de casas que ficavam defrontes a subida da Vila Nova, morava a já bem idosa Dona Ema com o Valentim e o Hernani Cavaletti, seus filhos solteiros. Bem em frente e do outro lado da rua uma enorme pedra se sobressaia do chão e se alastrava até perto dos fundos dos quintais das duas primeiras casas da Vila Nova que eram do Hilário Carezzato e do Natal Nani. Era conhecida como a pedra do Valentim onde às vezes por sobre ela se empinava papagaio (hoje se diz pipa). Voltando aos dois meninos do início desta, um era o Zé Polatto e o outro era o filho do Alberto Olimpio retornando da já citada portaria. Bastava se entreolharem para saber o que deveriam fazer naquele lugar já deserto e precariamente iluminado pelas lâmpadas fracas daqueles tempos, instaladas nos postes que existiam em todas as ruas daquele lugar, o Bairro da Fábrica. Tendo o silêncio noturno como cúmplice, lá defronte aquela última casa, os dois meninos escolhiam as pedras maiores que encontravam pelo chão e... Com as forças que tinham as atiravam na porta da casa, aquela que era dos Cavalettis. Os estrondos provocados pelas pedras atiradas na porta ecoavam na noite e então “pernas pra que te quero” para fugir “heroicamente” daquele lugar. Televisão no início ainda não era para todos, então, o costume era ir pra cama mais cedo. Dona Ema e seus nada jovens filhos Valentim e Hernani despertavam apavorados até pensando em terremoto. Essas maldades e molecagens dos meninos de então parecem que contribuíam para a rara incidência de enfermidades neles (risos). Entretanto, tratando-se das malvadezas de outrora e tendo esta das pedradas contada aqui como exemplo,o malvado o Zé Polatto não valia uma merda (risos).


Altino Olympio