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12/01/2009
Saudades... Que Mentira!

Não se sabe por que tanto lero-lero esse ai do passado de nossa antiga cidadezinha. Muitos ainda repetem aquele “eu era feliz e não sabia, ou, nós éramos felizes e não sabíamos”. Sei não se recolocados naquele lugar daquele mesmo dia-a-dia essas pessoas agüentariam tanta monotonia. Atrações existiam sim, como a chaminé da caldeira da fábrica, era mesmo arta de verdade e lá em cima na ponta dela tinha um pararráio (nova ortografia hehehehehe) e parecia mesmo que quando chovia ela pedia: vem, vem cá raio vem. Todo mundo de lá era orientado pelo apito da fábrica, pois, apitava as seis, as sete, as onze, as doze, quatorze, as dezessete, e, por último, as vinte e duas horas e quem não obedecia levava um pito. Nem mesmo hotel tinha para os turistas, se bem que eram raros e não tantos como existem hoje. Coisa rara também era quando morria alguém, e, não tinha velório. O morto era velado em casa e ninguém contava piada, ninguém dava risada, era chato demais porque ainda tinha gente que chorava. O enterro então, minha nossa, que sacrifício! Era conduzido a pé pelas ruas, pelas curvas e subidas. Quem ficava em casa assistia tudo da janela. Nunca se soube o motivo do caixão ter que seguir na frente e não pelo meio ou pelo fim da numerosa fila de acompanhantes. A cabeça do falecido também tinha que seguir na frente. De jeito nenhum poderia seguir atrás com os pés na frente e, por que mesmo teria que ser assim? Com seis alças no caixão não faltavam homens que se revezavam, pois, as alças provocavam calos nas mãos, ainda mais quando quem estava dentro do caixão fosse muito pesado. Havia até gente com gravata calçando paragatas (alpargatas). Charretes paravam para o enterro passar e era quando os cavalos aproveitavam para urinar, fazer cocô ou para comer capim da beira da rua. Quando o féretro coincidia com a passagem do caminhão de lixívia, aquele líquido escuro e corrosivo que era esparramado pelas ruas poeirentas, minha nossa, como falavam mal da mãe do motorista. Coroas não existiam, as flores eram catadas do quintal de quem tinha, tinham que ser frescas e não quentinhas. Eram muitas as dificuldades e mesmo assim o lugar era considerado um paraíso. As casas eram todas iguais e em nenhuma havia piscina. Que graça tinha então? Quem fosse pra Sum Paulo estando com os sapatos engraxados e brilhando, antes de lá chegar, os mesmos ficavam imundos de tanta poeira. Quando chovia, só os filhos dos chefes da fábrica é que dispunham de galocha para enfrentar o barro. As moças, então, só namoravam se para os pais delas os moços pedissem para namorar em casa. Motel também, ninguém sabia o que era isso. Nos bailes era proibido dançar colado. As moças nunca mostravam as pernas. Calcinha então, nem pensar. Aquele lugar teria mesmo sido um paraíso?

Altino Olympio