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Assim Surgiu “Caieiras”

Em terras próximas a São Paulo, mais precisamente as margens do Rio Juqueri-Guaçu, um paulista, nascido em 1838, chamado Antonio Proost Rodovalho, tinha sua fazenda até então destinada ao descanso, plantação de uva e pecuária. Era conhecido por Coronel Rodovalho, recebeu o título de coronel, após o apoio por ele oferecido ao Exército Brasileiro na Guerra do Paraguai. Entre os muitos empreendimentos e cargos que ocupou, podemos destacar sua nomeação para gerente tesoureiro da caixa filial do Banco do Brasil, o cargo de presidente da diretoria do Banco Commercial de São Paulo, por ele criado, participação na organização e administração de importantes companhias como a Companhia de Gás de São Paulo e a Companhia Cantareira de Esgotos, criada no mesmo ano dos fornos de cal de Caieiras. Administrou também as obras da Estrada de Ferro da Companhia São Paulo e Rio de Janeiro.

Nas terras da fazenda, pessoas que freqüentavam o local observaram a presença de minerais ricos em carbonato de cálcio, indicado para o preparo de cal. Rodovalho, com sua visão administrativa e comercial percebe as portas se abrindo para uma futura produção de cal com a descoberta dos minerais e tem a iniciativa de mandar construir em sua fazenda dois fornos de barranco começando então a produzir a cal em suas terras. A construção dos fornos e a produção de cal começam a fazer a região se tornar conhecida pelo nome de Caieiras. Para facilitar o transporte do produto até a Estação Ferroviária de Perus, até então a mais próxima da região, Rodovalho promoveu o alargamento das trilhas de boiada. A região vai se desenvolvendo em torno dos fornos e da Companhia Cantareira de Esgotos, que, neste momento, obtém contratos oficiais para execução de trabalhos de higienização em São Paulo e começou explorar os recursos disponíveis em Caieiras.

Desenfreado, o desenvolvimento levou à construção de 180 casas destinadas a abrigar os trabalhadores que ali iam se fixando. Segundo o historiador Hernani Donato (1990), seria este o “primeiro núcleo habitacional organizado do Brasil para trabalhadores livres”, sendo em sua maioria imigrantes italianos. É interessante notar que nesse período, o desenvolvimento da economia cafeeira não teria sido possível sem as estradas de ferro. As estradas de ferro foram surgindo para transportar a produção de café. Assim foi também com a produção de cal, que até então era transportada em muares (mulas). O desenvolvimento ritmado e as boas relações de Rodovalho e seus sócios ingleses da Cantareira fizeram possível à criação de uma parada de trens da São Paulo Railway na região. Assim, em 1883, seis anos após a construção dos fornos, estava sendo criada a Estação Ferroviária de Caieiras, que, seguindo o costume da época, foi batizada utilizando alguma característica local para dar-lhe nome, no caso, os fornos de cal, ou seja, as Caieiras. As ferrovias começaram como suporte para a lavoura de café, porém, tornaram-se por si, um investimento de alta lucratividade e a economia, antes, em sua totalidade cafeeira, abria-se para outros investimentos. Os fazendeiros de café tornavam-se banqueiros, comerciantes e investidores. A experiência e a visão de negócios de Rodovalho apontavam a necessidade de enveredar os negócios para outro ramo de atividade, pois a produção era empregada quase que totalmente nas obras públicas, e na opinião do Coronel, logo o município ou o Estado assumiria este trabalho público.


Passado Glorioso