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Um Dia de Pânico

O local onde nasci e morei quando criança, já foi parcialmente descrito na história anterior com o título “Uma Surpresa Sinistra”. Num dia de quando eu ainda era garoto, a calma do lugar e a sua monotonia deram vez a uma outra situação contrária, quando gritos de crianças se fizeram ouvir. Eu saí do silêncio de minha casa, atravessei a rua, acercando-me da cerca do “quintal do rio” e, ao olhar abaixo vi uma cena muito chocante. No rio, em frente à “boca do esgoto”, debatendo-se dentro dele eu vi um menino e o reconheci. Era o Nino Liza que morava na Vila Nova. Ele que, não sabia nadar, aos gritos se debatia tanto, agitava as águas ao seu redor, afundava e submergia num total desespero. De um ferimento em sua cabeça, escorria-lhe sangue no lado esquerdo de sua testa, até cobrindo e fazendo desaparecer um de seus olhos. Petrificados como eu, sem tirar os olhos do Nino, outros meninos estavam no barranco que era aquele quintal que terminava no rio. E o Nino gritava e se debatia nas águas, se debatia e gritava e o sangue lhe escorria pela face. Apavorados, os meninos desapareceram daquele quintal em que brincavam, talvez, até antes do desfecho daquilo que se prenunciava como uma tragédia.

 

Meu vizinho de então, o Sr. Chico Pastro, estando em sua casa e, ao ouvir aqueles gritos de desespero, rapidamente se dirigiu, desceu até a beira do rio, com uns passos penetrou nele, esticou um de seus braços até alcançar os do Nino que estava em águas mais profundas e foi assim que ele foi salvo. Com o menino no colo e ainda sangrado, aquele homem subindo por aquele terreno muito acidentado, ganhou o plano da rua e prosseguindo por ela, levou o Nino para a sua casa.

 

Soube-se depois, dentre aqueles meninos que estavam brincando naquele quintal da beira do rio, também estava os dois irmãos, o Rafael (Tchaque) e o Ricardo, filho do Sr. Armando de Grande. Um deles, com um arco ou aro de metal na mão, alertou os outros meninos que estavam mais abaixo deles “cuidado que eu vou jogar este arco”, só que, falando já foi jogando e o Nino que estava em pé sobre a parede da boca do esgoto olhando para o rio, ao virar-se para trás por causa do aviso sobre o arco que ia ser atirado, recebeu o impacto dele em sua cabeça e a seguir caiu no rio. Que alívio para todos quando ele foi salvo pelo ato heróico do Sr. Chico Pastro. Depois, tudo voltou a sua normalidade, restando do fato, apenas os costumeiros comentários, mais, entre os meninos que viram o ocorrido e outros daquele lugar que nada viram. O tempo passou e o Nino (Antonio Liza) quando moço, tendo aprendido tocar sanfona (harmônica), ele abrilhantava alguns bailinhos em “casas de família”, bailinhos de Festa Junina e com seu conjunto musical, participou também do programa de calouros que existiu no Clube Recreativo Melhoramentos do Bairro da Fábrica de Papel. Lembrar é reviver.


Altino Olimpio