Na história anterior ---Peraltices--- explicamos sobre a época junina, quando se “soltava fogos” e quando tínhamos onde comprá-los. Esta outra história tem outros protagonistas e também muito conhecidos em Caieiras.
Era uma veiz, e já deviam ser marmanjões os irmãos Eduardo e Paulo Satrapa, quando aprontaram uma maldade das boas, isso, no entender deles. Claro, nem imaginaram que as conseqüências iriam recair num animal inocente.
Naquele tempo existia um tal de “salta moleque”, diferente do “peido de veia” descrito na outra história, ele tinha um pavio igual das bombas, mas, seu corpo era feito com dobras grudadas, se não me engano, e não explodia forte e só uma vez como as bombas. Entretanto, repetia fracas explosões e ao mesmo tempo saltava do chão, parecendo mesmo querer saltar sobre moleque.
O Ede e o Paulo tiveram a idéia de transformarem num salta gato o salta moleque. Amarraram um no rabo do gato, acenderam o pavio e soltaram-no dando início a um sururú danado. Coitado, o gato corria pra cá, corria pra lá, se rolava no chão, miava, rosnava, subia aqui, descia ali, fez xixi, cocô, tudo enquanto perdurou o efeito da pólvora do salta moleque, quando o gato alucinado subiu num pé de mamão, arranhando-o onde conseguia, donde vertia “leite” ou muco branco que escorria pelo tronco do pé de mamão.
A dona Ana, mãe dos dois anjinhos, sem o saber do porque o gato havia mudado de personalidade tão de repente, nenhum dos filhos encontrou para lhe ajudarem a desgrudar o gato do pé de mamão, os dois haviam sumido.
Mas, ela chamou seu marido, o Sr. Alfredo e ele concluiu que, o gato tinha ficado louco. Muito educado, o gato se calou e não dedou os dois irmãos. Sozinho assumiu a culpa por aquele transtorno que amedrontou e distraiu a dona Ana quando no fogão o leite ferveu e esparramou.
Quem quiser saber qual foi o destino do gato, deve perguntar para o Eduardo Satrapa. Se for difícil se encontrar com ele, pode lhe telefonar. Mas, com algum cuidado, porque, ultimamente ele anda falando algumas coisas esquisitas.
Na última vez que conversei com ele, ele me disse ter ido ao cemitério de Caieiras e lá viu cebola que fazia quarenta anos que não via. Mudei de assunto, dei uma desculpa qualquer e me despedi.
A propósito, no mesmo dia encontrei-me com o Mario de Souza que também tinha ido ao cemitério e disse ter encontrado o Ede lá. O Mario tinha comido um bife acebolado e eu senti o bafo.
Terminando, quantas pessoas ainda se lembram do “salta Moleque?”