Habitantes se desenvolveram socialmente com participação nas capelas da Melhoramentos durante o século XX.
A religiosidade é uma característica forte das famílias brasileiras dos séculos passados. As atividades festivas, o ensino educacional e o desenvolvimento social giravam em torno das igrejas da comunidade. Em Caieiras não foi diferente. Os habitantes da Companhia Melhoramentos sempre se reuniam nas capelas Nossa Senhora do Rosário e São José para celebrar as datas comemorativas e a união da população trabalhadora.
Uma das mais antigas do município, a Capela Nossa Senhora do Rosário foi arqui-tetada em 1917 nas dependências da fábrica de papéis, no bairro da Cerâmica. Passou por uma reforma em 1957.
No terreno lateral está exposto o símbolo da cristanda-de, o Cruzeiro. O marco, construído pelos próprios funcio-nários da carpintaria, foi transportado num barco pelo Rio Juquery em 1943. Uma festa foi organizada no dia da chegada do Cruzeiro e uma multidão de fiéis aguardava nas margens do rio.
Em 1930, a capela recebeu o primeiro padre oficial-capelão da Companhia Me-lhoramentos, o saudoso, Aquiles Silvestre. À frente da comunidade, ele era considerado um pai para os habitantes da região. Organizava romarias, festas comemorativas e desenvolveu o primeiro ensino profissional oferecendo cursos de corte e costura, arte culinária e trabalhos manuais, além de alfabetização de adultos. As aulas eram elaboradas no salão interno da capela.
Depois de 24 anos, chegou o padre Antônio Joaquim de Almeida. Em seguida, em 1961, o padre José César, ordenado a Monsenhor em 1999, passou a administrar a capela, mas por problemas de saúde, foi substituído pelo padre Sidney, que ainda celebra missas no local.
Festa
Durante todo o ano, moças e rapazes da região e de outras cidades, na década de 30, se preparavam para um dos maiores acontecimentos que Caieiras realizava, a festa de Nossa Senhora do Rosário, celebrada em 7 de outubro. As festividades se iniciavam com a missa campal e procissão. Impacientes, as crianças esperavam a quermesse com barracas, músicas e leilão de animais. A juventude procurava exibir os melhores trajes e o evento acabava se tornando um verdadeiro desfile de moda.
Mais que isto, o organizador e músico do coral Geraldino Ferreira de Almeida, 54, garante que "a presença nas missas ouvindo o sermão do padre José nos ensinou a viver em comunidade e a maneira de nos alertar na vida paroquial".
Barracas de guloseimas e de diversos tipos de comidas eram armadas desde a garagem da Cia Melhoramentos. Elas tomavam todo o pátio da igreja e continuavam lado a lado à Rua dos Coqueiros até o Cemitério de Caieiras. O dinheiro arrecadado com os estandes, organizado pelos clubes, era revertido para as obras da igreja.
Participação
Já o aposentado Verque José Gonçalves Leme, 66, foi coroinha e organizava os processos de casamento. "Às vezes, os pobres não tinham dinheiro para casar, mas o padre Aquiles era muito caridoso e autorizava a celebração do matri-mônio", continuou Verque José.
A catequese e os arranjos decorativos da capela ficavam por conta de Cleonice Pilon, 67. "Todas as celebrações de Natal da década de 80, nós colocávamos arranjos de flores, fitas decorativas e, no fim da festa, fazíamos a limpeza", contou Cleonice.
Tocar a matraca, que é um instrumento de percussão, durante a procissão e o sino no decorrer das missas, era a atividade dos coroinhas. Por seis anos o aposentado Pedro Luiz Pereira Leite, 58, foi um dos coroinhas do padre Aquiles. "O que as crianças mais desejavam era carregar o turíbulo com incenso, privilégio dos mais velhos", contou Leite.
Ele relatou que no Sábado de Aleluia, o padre Aquiles enchia a cabeça do Judas com moedas para a criançada se divertir. Com o dinheiro eles compravam bombinhas e garantiam a alegria da festa.