Versão para impressão

Saudades de catar goiaba na mata

Saudades de catar goiaba na mata

No Bairro da Fábrica de Caieiras onde proliferavam os pés de abacate, em abundância também eram a dos pés de goiaba. Naqueles tempos a molecada tinha as suas responsabilidades diárias: Rodar pião, jogar malha, empinar papagaio, jogar bola e etc. e eu quando precisava me ausentar dessas incumbências diárias ficava com remorso.  Mas, lá ia eu com algum amigo catar goiaba no mato e para isso eu tinha um saco grande. Existiam muitas goiabeiras pelas matas daquela região! Estavam lá para o ‘bel prazer’ dos pássaros e para quem ousasse enfrentar cobras e lagartos, picão e carrapatos para poder colher goiabas maduras. Colhendo-as não demorava muito e eu já ficava com o saco cheio. Na volta para casa desse sacrifício ecológico de catar goiaba o meu saco me atrapalhava. Repleto de goiaba até a boca meu saco pesava muito. 

Vez ou outra me encontrava com mulheres e pelo forte cheiro sabiam que eu tinha ido catar goiaba. Eu com o saco cheio e elas não se conformavam com o tamanho do meu saco. Quando eu chegava em casa com as goiabas minha mãe se admirava ao ver meu saco cheio e reclamava: menino exagerado, não vou conseguir fazer tanto doce assim. Mas, depois de lavá-las colocou-as na caçarola e ao fogo do fogão a lenha. 

Demorava um pouco e logo tudo começava a ferver e era preciso ficar mexendo para não grudar, mas, não com colher comum de metal, pois, o vapor quente que subia da panela queimava a mão. Aquela fervura fazia com que as goiabas dissolvidas borbulhassem e estourassem “puf, puf, puf”. Quando o doce ficava no ponto a mãe colocava-o numa grande tigela e demorava para esfriar. Assim é que tínhamos doce de goiaba para alguns dias. Mas, quem foi mesmo que comeu o doce ainda quente e ficou uns dias com disenteria? É.. Bons tempos que não voltam mais. Nesta época as crianças não vão para as matas para catar goiaba ou pinhão.
 
Altino Olímpio