“Fuçando” a pasta que contém velhos papeis escritos guardados como lembrança, entre eles encontrei este:
Anos 60... você dançava
Meu primeiro amor
Ao som da orquestra
De Silvio Mazzuca
Agarradinho à donzela
Sua silhueta perfeita
Madrugada ia chegando
Eu não conseguia dormir
De tristeza
Pensava em ter uma janela
Na sua rua
Para te ver voltando do baile
Eu não participava
Da sinfonia da orquestra
Que te embalava e seduzia
À noite adentro
Pousava meu rosto no travesseiro
Imaginava-me nos teus braços
Um sonho de menina
Distante da orquestra
E da sede social
Do Clube Melhoramentos
Os anos 60 voltam
Às lembranças e eu
Continuo ainda te vendo
Da janela do meu coração
Lendo essa declaração que não lembrava do existir dela, isso fez com que o passado viesse e me roubasse do presente. Ah aqueles bailes do Clube Recreativo Melhoramentos do Bairro da Fábrica que terminavam as quatro horas da madrugada. Na volta para casa, às vezes envolto por neblina, numa paradinha no meio daquela ponte de concreto sobre o Rio Juquery se ouvia o barulho inesquecível dos motores que impulsionaram as máquinas de papel número cinco e seis da Indústria Melhoramentos, isso enquanto as lembranças românticas do baile ainda repercutiam na mente.
No trajeto de volta para casa caminhando pelas ruas de terra, mas, era como se estivesse caminhando pelas nuvens por causa das emoções vividas no baile, às vezes se era obrigado andar pela beira das ruas, porque recentemente (pra quem se lembra) o caminhão tanque havia despejado aquele líquido quente que se chamava lixívia fazendo com que as ruas de terra ficassem pretas parecidas com asfalto. Estas lembranças me foram provocadas pela leitura daquele escrito acima daquela que me queria e eu não sabia (risos). Só fiquei sabendo muitos anos depois da minha juventude e pelo que ela me escreveu e está reescrito no início desta crônica.
Altino Olimpio