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Festas na Igreja de Nossa Senhora do Rosário

Festas na Igreja de Nossa Senhora do Rosário Versão II


Hei leitor! Nossa, que ar de desconsolado. Até adivinho, você se sente vazio e como se estivesse a mais e sobrando no mundo. É falta de atividade mental. Quase ninguém revive com o que lhe existe na memória. Fomos constituídos com ela, talvez, para na velhice quando estivermos nos sentindo a sós, nosso subterfúgio seja recordarmos dos nossos anos dourados. Ah, já sei como tirar-te dessa desolação.

Venha comigo e embarque na minha memória. Prepare-se para o que e quem você vai rever. Olhe para cima... Dia de sol e céu azul. Mês de outubro, domingo e Caieiras como ela era. Muita gente presente na procissão. O passar dessas pessoas rezando parece interminável. Veja a banda! Nos intervalos entre as orações ela reproduz melodias agradáveis de ouvir.

A procissão termina quando retorna pra igreja com a santa no andor. Muitos adentram também na igreja para acompanharem a celebração da missa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, mas, pela falta de espaço a maioria fica acumulada do lado de fora. Ninguém vai embora, porque, depois da missa já é o início da festa. Vem cá. Vamos dar um pulinho para avançar no tempo para você ver um espetáculo. Olha só! Vinda do Bairro da Fábrica chegou à maquininha com seis vagões superlotados e até com gente de pé nos estribos laterais dos vagões.

Hoje excepcionalmente a maquininha para por uns instantes ali perto da igreja para todo aquele pessoal desembarcar. Veja também os caminhões “pau de arara” superlotados com gente do Monjolinho, do Bonsucesso e da Calcárea. Já se misturaram com outros que vieram a pé da Vila Cresciuma e do Serpa. Quanta gente! Será que na festa haverá espaço para todas elas? Pra saber vamos nos misturar com esse povo de então. Agora estamos no páteo do lado direito da igreja. Aqui é onde sempre fica instalada a barraca da quermesse, como também, o local donde se saboreia doces e salgados.

Já notou como moças e rapazes perambulam por ai com pipocas nos seus saquinhos de papel espalhando pelo ar seus odores inconfundíveis? Ouça agora o som característico da roleta que vem lá da quermesse. Os festeiros de lá gritam o número sorteado para a alegria de quem o possui. E assim alguém já ganhou um frango assado com um litro de vinho. Todo ano se sorteia aqui um quadro com o Sagrado Coração de Jesus ofertado pela minha madrinha de batismo Ditinha Valbuza. Escuta, a banda começou a tocar. Vamos ver e ouvir. Lá está ela no coreto do outro lado da rua que aqui abaixo está rente a ladeira de acesso a igreja. Coreto romântico, pois, está rodeado por belas árvores

. A banda é uma mistura com músicos do maestro Assis Fernandes e do maestro Sergio Valbuza que se intercalam na regência. Gozado, essa banda estimula a paquera com as moças daqui da festa. Hei para, para assanhado! Você fez sinal para uma delas. Esqueceu-se que estamos aqui numa viagem pela memória? Por isso, ninguém nos vê ou nos ouve. Só nós os vemos e até os ouvimos, conforme os vimos e os ouvimos outrora, pois, foram e são partes dos enredos de nossa história. Entendo, é fácil se distrair nos espaços dos páteos de ambos os lados da igreja onde ficam as barracas das diversas atividades festivas.

O passar de um páteo a outro é estreito defronte à entrada da igreja devido ao acúmulo de gente naquele vai-e-vem ininterrupto. No outro espaço ao lado da igreja os divertimentos são a barraca do coelhinho, barraca do tiro ao alvo, barraca das argolas. No chão de areia da barraca de pesca só se vê uns pequenos aros e por baixo deles, ocultos na areia estão os peixes de metal. Nessa brincadeira pueril os adultos se divertem. Com vara de pescar tentam encaixar os anzóis nas argolinhas dos peixes, mas, para alguém que tenha o Mal de Parkinson isso é impossível.

A barraca do coelhinho é a mais concorrida. Mas, o coelhinho é um ratinho ou esquilinho hamster. Ele fica isolado sob uma caixa e ao puxar de um barbante a caixa se levanta e o ratinho se vê rodeado por casinhas numeradas tendo aberturas, buracos como se fossem as portas das casinhas. A função dele é adentrar num dos buracos ao derredor que terá um premio para quem possui o número correspondente. E os participantes ficam gritando: Vai, vai, entra no meu buraco. Outro retruca: Não, não, entra no meu. È muito divertido. Dizem que as felicidades são momentâneas, contudo, nós somos distraídos e quase sempre nos esquecemos delas.

Repare naquela moça bonita com uma criança no colo, talvez, seja sobrinho dela. Quer mantê-la na mente para sempre? Olhe-a fixamente por uns momentos. Agora feche os olhos e reveja-a por outros momentos na imaginação. Memorize, registre-a. Pronto, no futuro quando alguém lhe falar de festa de igreja, ela será a primeira cena que surgirá no teu pensamento. Outra coisa, você quer saber o que não existe aqui? Gente triste.

Observe as pessoas, seus semblantes, são todos sorrisos. Tudo aqui parece magia. Olhe para o firmamento nas estrelas cintilantes. Não lhe parece que elas estão lá nos assistindo? E o clima daqui, então... Não lhe parece que o ar destes espaços está sendo diferente e especial, hoje? Só o tempo concorre contra nós. Que pena, a festa está se aproximando do seu final. Vemos pessoas se retirando e quando todos forem embora você irá saber o que é sentir o vazio, a melancolia. Os membros da banda se foram e nós nem percebemos.

Festa de outubro da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Hoje, os últimos horários da maquininha e dos caminhões Pau de Araras foram especiais por causa da festa. Por falar nisso todos já foram embora. Veja, apagam-se as luzes dos espaços laterais da igreja e agora só nós continuamos por aqui na penumbra. E neste instante fecham-se as cortinas da memória, entretanto, continuo conversando contigo, leitor.

Por vezes estive nessas festas. Nelas, ganhei olhares e sorrisos que agora reaparecem na minha cabeça. Vimos muitas pessoas aqui, hoje. Pela memória as vi na festa, ainda vivas e elas na inconsciência de suas mortes. Muitas pessoas, que, pela memória te fiz ver na festa, elas morreram, mas, naqueles instantes não quis te falar disso. Essa é a razão de muitas ausências nas festas de igreja de hoje. Moças e rapazes que vimos nesse passado, agora são avós, como, nós também. E pra nós a vida continua, neste viver de agora, ausente das mesmas amabilidades que tivemos no passado, quando, a mútua consideração era preponderante entre todos. Obrigado pela companhia, leitor.

Altino Olympio