Certa vez, no final da década de 60, aqui em Caieiras, mais precisamente no Bairro da Cresciúma, também tivemos a visita de um grande Circo. Daqueles com lonas rasgadas, arquibancadas de madeira, chão de terra, picadeiro de serragem e muitas, muitas lâmpadas. Ele se instalou no final da Rua Ambrosina do Carmo Buonaguide, quase esquina com Av. Presidente Kennedy. Lembro como se fosse hoje, do nosso entusiasmo por este Circo e seus artistas. Afinal, aquilo era prenúncio de muita diversão para nós crianças da época.
Ficou instalado naquele ponto e ali permaneceu por algumas semanas. Durante o dia, por curiosidade passávamos pela Rua para tentarmos descobrir as novidades que, só na estreia seriam reveladas. O local permanecia sempre rodeado de veículos grandes, jaulas, animais rugindo e de muita movimentação dos próprios artistas e proprietários. Não conseguíamos chegar muito perto, tudo era bem cercado. Ouvíamos apenas, os ruídos e sons demonstrando que todos estavam ensaiando e se preparando para o grande dia. Dias antes da data de estreia, carros com alto falantes circulavam pela cidade, fazendo propaganda e convidando a população para o evento. E no dia marcado, lá fomos nós aos batalhões, com dinheiro contado para entrada, pipoca e pirulitos. Sempre havia muitas guloseimas, algodão doce, maçã do amor e sorvetes para alegrar e completar nossa felicidade. Entramos no Circo com olhos arregalados e curiosos. Sentamos naqueles bancos de taboa pois, só quem se dispunha gastar um pouco mais é que se sentava nas cadeiras especiais (nem tanto!), próximas ao picadeiro. Quando o show começou, palhaços, malabaristas, mágicos, trapezistas, equilibristas tomaram conta da noite (ou da tarde) e o espetáculo mais temido com o domador e seus leões sempre ficava para o final. Mas a atração mais anunciada e esperada era sem dúvidas, a do Globo da Morte, aquela onde um motoqueiro arriscava a vida numa estonteante corrida dentro daquele compartimento gigantesco, metálico e muito brilhante. Sempre havia o risco de acidentes. Todos temiam e na hora desta apresentação era comum se manter as luzes apagadas focando-se apenas no Globo que, estalava aturdidamente e ofuscava nossos olhos atentos. Para aumentar a tensão uma música e sons de instrumentos musicais quase arrombavam nossos ouvidos e aceleravam nossos corações cheios de admiração e medo. Mas tudo era lindo!
Nunca ocorreu qualquer tragédia ou acidente com o circo. Mas lembro-me que, os adultos da cidade comentavam e temiam sobre a possibilidade de algum animal escapar pelas ruas. Por esta razão e por segurança íamos sempre acompanhados às apresentações. Numa destas noites e eu minha irmã Joana fomos levadas pela minha Madrinha ao local e eu particularmente me diverti demais.
Foram dias de festa na cidade pacata de Caieiras. O Circo patrocinava mais um encontro social entre os moradores de Caieiras. Unia corações e almas para plena diversão.
Hoje no local, existem casas, comércio e nem passa pela cabeça dos que transitam por ali que, um dia, naquele mesmo espaço aconteceram magníficas apresentações circenses. Pouca gente se lembra, mas eu jamais me esqueci destes momentos tão puros e alegres que adocicaram minha infância. Fechando meus olhos por instantes, revejo tudo: luzes, bancos, artistas maquiados, animais, doces e cores. Ouço sons dos animais, ouço risos, ouço conversas e principalmente , ouço aplausos.
Aplausos à perfeição de movimentos, aplausos às peraltices dos palhaços, aplausos à beleza dos artistas, aplausos à ferocidade dos bichos, aplausos à vida que pulsava animadamente sob as furadas e surradas lonas. Aplausos!!! Muitos aplausos ao grande Circo. Aquele, que um dia contribuiu para a infância feliz de tantas crianças caieirenses. Aplausos!
Fatima Chiati