Parque de Diversões em Caieiras
Há mais de 40 anos atrás, a Rede Globo exibia a novela ‘Minha doce namorada”, cuja história se passava dentro de um Parquinho de Diversões. Drama, comédia e muito romance esquentava o folhetim.
Na mesma época, quando Caieiras ainda era uma cidadezinha pacata, silenciosa e muito bucólica, também vivenciei momentos da minha vida num local parecido.
Não havia na cidade muitas opções de lazer. Havia, estranhamente, um cinema que logo foi desativado. Havia a Praça Santo Antônio, a Concha Acústica, O Clubinho no Salão Paroquial e ruas... Muitas ruas para brincarmos até tarde da noite. De vez em quando vinham então, os inesquecíveis Parques de Diversão com aqueles brinquedos malucos, elétricos que assanhavam todas as crianças da época.
Um deles, em 1.971, se instalou no início da Avenida dos Estudantes, abaixo da ladeira da Rua 4 (hoje Rua Guadalajara). Ali permaneceu por algumas semanas, expondo um mundo fantasioso a todos os habitantes da cidade. Os brinquedos que, à luz do sol, pareciam sem graça, à noite ganhavam cores, luzes e provocavam em nós, a maior alegria e a maior vontade de subir aos céus. “Eu me lembro da “Roda Gigante”, do “ Bicho da Seda”, do “Carrossel”, do “ Danger”, do “ Trenzinho”, dos “Aviõezinhos”, da “Xícara” e do “Chapéu Mexicano” aquele brinquedo perigosíssimo, cheio de balanças penduradas que nos faziam voar à medida que a velocidade do motor era aumentada. Muitas vezes meus sapatos também voaram longe, tamanha era a rapidez do brinquedo.
No Parquinho me diverti demais ao som das músicas da Jovem Guarda que embalavam, não só nossas brincadeiras como também, nossas paqueras inocentes. Sempre íamos em grupos e aos finais de semana. Vestíamos nossas melhores roupas e calçávamos nossos melhores sapatos para pisotear a terra e o barro que, nos dias de chuva, circundava o Parque. Eu levava o dinheiro contado para uma volta em cada brinquedo, para um saco de pipocas ou para uma apaixonante maçã do amor, sempre tão difícil e desajeitada de comer.
Certa vez, caí ao descer da Roda Gigante, o que foi motivo de muito riso. Mesmo assim, em nenhum momento, pensei em abrir mão daqueles momentos tão descontraídos. Os brinquedos talvez, nem fossem tão seguros. Desconhecíamos os perigos causados pela falta de manutenção e conservação, mas nunca houve relato de algum acontecimento trágico. Houve na verdade, relatos da alegria, dos risos e do entusiasmo de todos nós por tudo aquilo. E os adultos também se divertiam. O Parque proporcionava mais um acontecimento social, um momento de encontro e amizade aproximando todos de uma maneira muito fantasiosa e lúdica.
Nós, jovens, ficávamos felizes naquele Parque e até sonhávamos com cenas românticas idênticas às da novela. E se, tanto na ficção como na realidade tudo podia terminar bem, porque não sonhar? Sonhei na Roda Gigante, cabelos ao vento, animada, livre e ao som de alto falantes. O motivo do meu tombo talvez tenha sido justamente, estes exagerados sonhos juvenis. Sonhando, descendo das nuvens, do alto de uma Roda Gigante só podia mesmo, escorregar e cair na rampa do brinquedo.
O tombo porém, nada significou. Aliado à magia e ilusões, tornou minha adolescência mais bonita e cheia de doces recordações. Tão doces, como aquela deliciosa maçã do amor.
Hoje, naquele local paradisíaco, funciona o Banco Itaú, uma Loja de Tintas, uma Banca de Jornal e outros tantos estabelecimentos comerciais. Daquela época, apenas gritos , sorrisos e imagens distantes permanecem na caixinha de memórias do meu coração. Felizmente me pertencerão e me farão ter a certeza sempre de que, me diverti além da conta num animadíssimo Parque de Diversões em Caieiras.
Fatima Chiati
Blog: www.fatimachiati.com.br