Recentemente me encontrei com Elisabete Molinari (filha de Berta e Mário Molinari). Em conversa sobre nossa infância na Vila Leão, ela me pediu que escrevesse sobre o Sorveteiro que por lá passava assanhando todas as crianças da época. Confesso que pouco me lembrava, mas baseada no que ela também conseguiu se lembrar, consegui escrever alguma coisa. Peço aos leitores que se manifestem, caso tenham maiores informações a fornecer.
Pela descrição da Bete Molinari, o Sorveteiro era um homem de meia idade, simpático, da raça negra que, semanalmente, ia com um carrinho de sorvetes e todas aquelas delícias refrescantes da Kibon. Quando chegava, ele fazia um barulho imenso, com algum instrumento do qual não sabemos mais descrever. Podia ser um buzina ou sei lá o quê, mas o som emitido servia para avisar sobre sua chegada e para aguçar o paladar de todos os simpatizantes. Permanecia no campinho, onde eu devo ter sido sempre uma das primeiras a chegar, afinal o fundo do quintal da casa da minha madrinha, desembocava justamente neste local magnífico de encontros, festas e brincadeiras. Segundo a Bete Molinari, sua mãe fazia de tudo para distrair sua atenção e impedir que ela ouvisse o barulho do Sorveteiro. Certamente, nem sempre conseguiu já que todas as crianças entravam em êxtase e saíam correndo alucinadas para o campinho. A Bete não fugiu à regra.
No campinho, em volta do carrinho do Sorveteiro, entre murmúrios e agitação esperávamos a abertura da tampa daquele compartimento surpreendente. Quando a tampa se abria , uma espécie de névoa fria e úmida se espalhava entre os rostinhos ansiosos da molecada que, curiosa e na ponta dos pés, se dependurava no veículo para ver a montanha de picolés, caixinhas e potinhos geladíssimos. Sobre o balcão deste carrinho havia sempre um recipiente com pazinhas, colherinhas de madeiras , todas seladas numa embalagem de papel que, eram abertas por uma espécie de picote na borda. Lembro que, na maioria das vezes, comprávamos o sorvete de palito por ser, talvez, o mais barato. O fato, porém nunca tirou nosso prazer, nem diminuiu nossa alegria e gula. Ao contrário, de palito ou de massa, nos preocupávamos mesmo era com a imensa variedade de sabores : uva, abacaxi, creme, chocolate, limão. Afinal como decidir entre tantos?
Um, porém, na década de 60 caiu no gosto geral e se tornou o favorito da criançada da Vila Leão. Quem não se lembra do famoso “sorvete de casquinha” da Kibon? Aquele, cremoso, feito de nata, todo branquinho por dentro e revestido com uma camada finíssima de chocolate! Quem não se lembra daquela delícia e do “croque” da casquinha se quebrando entre os dentes ? Quem não se lembra da maciez daquele creme, escorrendo pelos lábios , lambuzando mãos e roupas? Quem não se lembra do Eskibom? O sorvete mais delicioso da face da terra e que fazia a gente esperar ansiosamente a semana seguinte. Tudo inesquecível!
Foi bom recordar este fato e conseguir rever claramente a cena no campinho. Consegui rever até aquele carrinho da Kibon sendo empurrado por um simples e bom Sorveteiro que, talvez, nem tenha se dado conta, do quanto proporcionou alegria a todos nós da vila. Foi um Sorveteiro que nos levou sonhos, fantasias e uma agradável sensação, ao saborear o “sorvete de casquinha”.
Agradeço a Bete Molinari por me fazer lembrar e escrever sobre tão gostoso acontecimento lá na Vila Leão.
FATIMA CHIATI
Blog: www.fatimachiati.li9.com.br
Comentários:
Fatima que legal me diverti muito com sua cronica do sorveteiro, obrigada amei. Beijos. Bete (Bete Molinari)
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Fatima falando do skibon, aquele sorvete novidade com casquinha de chocolate. Era mesmo gostoso, mas, acabava logo. Não me lembro onde escrevi sobre o Sr. Afonso, homem do cachimbo, que aos domingos ia vender sorvete do Sr. Alfredo Satrapa, pai do Ede pelas ruas ou lá no clube. Bons tempos aqueles.Altino Olympio ----------------------------------------------------------