Em 1963, já era rotina as famílias levarem suas crianças para a folia do carnaval.Como sempre participei de mais este evento da comunidade dos melhoramentinos.O local ,o Salão Nobre da Fábrica como sempre centro do encontro de nós todos da época.Era comum também usarmos fantasias, máscaras , maquiagem e muito brilho pela face e corpo.Purpurinas iluminavam nossas roupas ,nossos cabelos e calçados.Para nós só isto já era a essência do carnaval.Brilhar e brincar eram o sonho de crianças sonhadoras.Lembro que neste ano tive a companhia da minha prima Magali (filha de Tatinha e Moacir Sant’Anna).Ela era mais nova que eu uns 3 anos.Estranho é que não consigo lembrar da minha fantasia.Mas a dela... Jamais me esqueci.Ela foi vestida de odalisca.Tudo confeccionado com capricho pela própria mãe. Era um verde bem claro, tecido fino, transparente e cheio de drapeados esvoaçantes que a deixaram parecida com a “Jeannie é um Gênio” (seriado da TV). Ela estava também maquiada,cheia de brilhos ,lantejoulas destacando ainda mais a brancura da sua pele.Mas uma coisa chamou minha atenção.Ela tinha um curativo na altura no estômago que era visível pela transparência da fantasia.E também não se juntou às outras crianças no meio do salão.Ficou sobre uma mesa no canto e do alto assistindo a tudo .Bem mais tarde descobri que aquele curativo com gases,protegia um furúnculo que dias antes havia estourado nela.Mas nem por isso a farra foi menor.Naquele dia de carnaval, nós duas brincamos muito,com as serpentinas e confetes que eram vendidos em saquinhos na entrada do Salão Nobre.O mais divertido era procurar dentro dos pacotinhos, o divertido assobio “língua de sogra”. Olhar para o Salão Nobre naqueles dias de folia era simplesmente mágico pois as marchinhas entoadas para o pula-pula tornavam o ambiente totalmente diferente dos demais dias.O chão brilhante ficava forrado de confetes e do teto caia uma cortina multicolorida de serpentinas. Para nós,tudo aquilo era máximo.Diferente de tudo que ocorria no restante do ano.Às vezes um espírito de malvadeza dominava nossos atos e então, jogar confetes na boca de outras crianças, era a maior peraltice do dia.No final da tarde,à volta para casa, o suor grudando no corpo,os cabelos emaranhados pelos confetes e o cansaço eram a comprovação de momentos alegres e diferentes.Como sempre,com estas recordações,consigo me transportar no tempo.Ouço as marchinhas,sinto o calor abafado do salão,ouço risos,gritos e um cheiro agradável daquela mata que adornava o salão, as estradas e nossas casas lá da Vila Leão.Nunca me esquecerei daquele dia de carnaval, da minha prima Magali fantasiada de odalisca e da felicidade que compartilhamos juntas.Estas lembranças que permanecem cravadas no meu cérebro,enchem meu coração de alegria.São coisas que não voltam mais, eu bem sei.No entanto,aconteceram e marcaram positivamente minha vida .Lembrar delas faz bem .É sentir-se feliz novamente .E ter saudades como sempre.
FATIMA CHIATI