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A “República” de Caieiras - 1ª parte

A “República” de Caieiras - 1ª parte

--Vera de Freitas, filha do Donato, como você é invejosa. Só porque passeei por aqui com o leitor e você quis passear também. Às vezes fico pensando como uma caipirinha de Caieiras foi morar lá em Orlando, nos Estados Unidos. Deve ter brigado com os vizinhos, porque, voltou e agora mora em Campinas. Bom, nossa referência como ponto de partida será a Pracinha da Portaria Um da Cia Melhoramentos. Vamos subir pela rua bem íngreme até lá em cima onde à esquerda a Vila tem o nome de República e depois vamos descansar na Igrejinha de São José. Vamos desconsiderar as casas e os moradores de antes do Filtro Rein. Noutra hora nós falaremos deles.
--Como quiser. Mas não sou invejosa. Nasci aqui e tenho o direito de rever este lugar também. Estou ansiosa para o desfile de rostos que irei “ver” novamente.
--Pronto, Vera, eis o Filtro Rein e aqui a nossa direita começa a Rua do Filtro. Vamos entrar nesta rua e... Olha que gostoso, a sorveteria do Alfredo Satrapa. Mas venha até aqui do outro lado na cerca do filtro. Fala-se filtro, mas, é uma estação de tratamento de água. As águas chegam aqui doentes e depois de tratadas ela ficam curadas. Este lugar, Vera, é místico. Aqui abaixo temos os três enormes tanques d’água e por sobre eles temos a visão de parte da fábrica de papel. Lá em cima se vê parte da Vila Pansutti. À esquerda aquela faixa desmatada é o caminho do Morro do Zigzag que vai dar lá no Bairro de Perus. Místico porque aqui é um convite às reflexões. Quem trabalha aqui no filtro é o Bentinho Barbosa, o Achiles Nani e o... Se não me engano é um senhor da Vila da Curva, pai do Helio (boi sonso).
--Viu, não daria para evitar os apelidos, isso é feio.
--Ah Vera, malvada... Moralista! Para de me aporrinhar, você bem sabe que neste lugar as pessoas mais são conhecidas pelos seus apelidos, então, como evitar? Lembrei agora de dois apelidos cujos “donos” não gostavam e até brigavam por causa deles: Ganso e Socó (risos). Não são daqui do Bairro da Fábrica. Vamos agora até o fim da rua. Olha pra baixo e veja os telhados das casas da Rua Do Caetano, o barbeiro. Mais abaixo os telhados das casas da Rua da Pensão e aqui estamos nós defrontes a casa do Senhor João Satrapa, campeão de snooker.
--Vá, vá, vá como ele...
--Cala-te Vera, estou brincando (risos). O Satrapa era quem selecionava as casas para os empregados da Melhoramentos. Os feios iam morar mais lá pro mato (risos). Duvido que alguém consiga me desmentir. O filho dele, o Heinz Satrapa foi muito bom no jogo de basquete e é dentista lá no Bairro de Perus, gente fina. O nome da irmã me fugiu agora. Vizinhos aqui moraram o Senhor Ursolino Machado, a Dona Lourdes e as filhas Marly, Margô e a Mirna. O filho Moacir ficou lá no Sul. Várias noites nós nos sentamos nessa escada para conversarmos. Eu namorava com a Marly, o Zé Bicha (José Ramos) de Perus namorava e era gamado na Margô e a Mirna ainda muito jovem não tinha namorado. Só bem depois é que ela namorou e se casou com o Valdemar Paltrinieri. Mas eu já não estava mais por aqui. Já estava morando em Perus, o bairro mais nobre da cidade de São Paulo. Certa vez, cagão como era o Zé Bicha, ele tinha medo de voltar sozinho e de lambreta para Perus, então, a deixou comigo. Que felicidade! Despedi-me das gauchas e não fui para casa. Rodei com aquela lambreta e até fui parar lá na Cresciuma no meio da noite.
--É, estou imaginando como eram românticos aqueles tempos.
--Verdade e como eram mesmo românticos aqueles tempos.
Aqui vizinhos das gauchas nesta última casa desta Rua do Filtro moravam o Senhor Romelli, a esposa Julia e os filhos Paulo e Veneranda. Entretanto, vamos retornar para a Subida da Igrejinha para irmos até a Vila República e “revermos” as casas e os moradores de lá. Ah, essa vila posteriormente foi renomeada e ficou sendo “Morumbi”, mas, eu já não estava por aqui. Antes de prosseguirmos, Vera, que tal chuparmos um sorvete na sorveteria do Alfredo Satrapa para nos refrescarmos?
--Mas que sorveteria? Não estou vendo nenhuma por aqui.
--Mas que saco Vera! Utilize-se da tua imaginação. Vou te facilitar. A sorveteria fora instalada onde antes, se estou certo era a garagem do carro do Senhor João Satrapa, aqui bem no começo da Rua do Filtro. Como eram irmãos, o João a cedeu para o Alfredo e este fez por bem aproveitar-se da garagem para transformá-la numa sorveteria. Vem cá, vamos entrar que te mostro as instalações. Aqui ó, está este balcão com várias tampas e podemos abri-las. Veja aqui os vermelhos sorvetes de groselha, os brancos de coco e etc. Ali sob as tampas maiores o Senhor Alfredo prepara sorvete de massa. Vamos experimentar todos eles... Isso, assim mesmo. Ah estais sentindo o gosto de cada um, né? Nós somos mágicos e nunca soubemos disso, não é Vera?
--É mesmo e está uma delícia. Que sorveteria gostosa (risos).
--Agora que você está mais fresca do que era (risos), que tal me contar quem era aquele teu “príncipe encantado” lá da Vila Nova?
--Ah não! Eu era garota ainda e isso faz parte da minha memória, das minhas doces recordações e não quero ser motivo de fofocas.
--(Risos) Boba e você liga pra isso? Você é uma mulher má. Não sabes que o povo precisa de alimento para sobreviver? Falar dos outros é o melhor alimento que existe. Não tem colesterol, não causa diabete, pressão alta. Olha fofocar evita infarto, derrame e outras doenças, você sabia?
--Não quero nem saber.
--Azar o seu então. Ah chega de delongas e vamos ao que interessa. Subir lá pra cima na Vila dos “chefes” da Cia Melhoramentos. Vou te contar uma história de lá, de arrepiar os cabelos (risos). Vamos então e não seja orgulhosa, campineira. Dê um chauzinho pra Rua do Filtro e pros seus moradores.

                                                                                                  Altino Olympio

Comentários

 

Obrigada pelo passeio na Vila República. Estou adorando apesar da rabugentice do meu acompanhante, até que está divertido. Eu   lembro-me bem do gosto do sorvete da sorveteria do Satrapa, porque eu era amiga da Cristina, filha do Sr. João Satrapa e nós faziamos lição de casa juntas, na casa dela é claro, porque a tarde a mãe dela servia um lanche maravilhoso digno de uma Freitas como eu e depois do lanche íamos  na sorveteria do Alfredo escolher o sorvete que queríamos, eu adorava aquelas tardes.
E antes de voltar ao Brasil e me tornar uma Campineira (risos) encontrei a Cristina em Orlando e foi uma delicia conversar com ela e relembrar da nossa infância.
Quanto ao segredo do meu grande amor do abacateiro da Vila Nova... Ahaahahah, eu nao vou contar. Foi um longo namoro, mas, meu acompanhante no passeio é velho e não se lembra mais, azar o dele. Bem agora vou assistir novela, esperando a hora de continuarmos o nosso passeio, que, ainda falta muita coisa para vermos juntos. Alguém mais poderia ser convidado e com mais amigos faremos um pic-nic na piscina, que, agora deve ter os seus portões abertos ao público em geral.  Digam para o meu parceiro do passeio que se ele estiver com os pés doendo de tanto andar coloque-os para cima, se reanime para continuarmos "vendo" a nossa gente da subida da igrejinha.

Vera de Freitas