A velha Vila Nova – 5ª parte.
--Sombra boa aqui, não é leitor. Viu, por falar em baile da Melhor Idade, desde longa data o pessoal daqui já tinha a mania de apelidar tudo. O Baile da Saudade chamavam de Baile do PM (pinto mucho) e agora deram pra falar Baile do E.V. (encoxa véia). Domingo estive lá na Av. Paulista no Clube Homs e lá o baile não era pra melhor idade, era pra pior. Tinha velho que já nem pode com o peso do saco dançando lá... E eu também (risos). Leitor... Às vezes eu vinha aqui na Vila Nova ver as peladas e ficava louco de vontade de entrar no meio delas.
--Sério mesmo! Disso não fiquei sabendo. Quem eram as mulheres?
--Mulheres? Será que estou falando grego? Cabeça poluída a tua, hein? Pelada cara, racha, jogo de futebol aqui na vila. Mas você hein? Mudando de assunto, está vendo aquele mato ali, esqueci o nome. Servia de haste para rojão, mas, também o chamavam de vara. Você o acendia e ele xxxxxxxxxxxxuuummmm... Pum... pum... pum... A vara também servia para atirá-la ao alto com o estilingue. A molecada da Vila Nova sempre vinha aqui no mato para levar vara comprida. Ah lembrei-me do nome. Aqui tinha um médico que mais atendia as esposas da chefaiada da Cia Melhoramentos. Ele era meio homeopático e nas consultas ele lhes dizia: Minha senhora, teu problema não é orgânico e sim passional. Tome chá de picão preto que a senhora sara. Então cara, o nome desse mato ai é picão.
--Orra meu, cada dia que passa mais eu aprendo, mas, vamos continuar com a descrição dos moradores e suas casas?
--É vamos sim leitor mesmo agora que deu preguiça. Ah, Esqueci de te falar os nomes dos filhos da Esther Pokorni e são eles: Ana Maria, Caio e o Paulinho.
--É mesmo e eu nem me “toquei”. Também pombas, você pula de um assunto pra outro que não tem nada a ver.
--Tens razão, me falta objetividade, sempre cometo digressão. Vamos lá então pra recomeçar “pirulito que bate, bate, pirulito que já bateu. Quem manda em mim é ela e quem manda nela sou eu Tam, tarara tantam. O cravo brigou com a rosa na hora de...” sabe de uma coisa, agora começa a confusão. O Oswaldo Cestarole, a Dirce e as filhas muito simpáticas também moraram por aqui, acho que na casa que era da Esther Pokorni. O Egidio Zanon, esposa e a filha que me lembro, penso eu, morou nesta casa antes da do Joaquim Sanches e Dona Genoefa, pais do Osmar, do Ulisses e da Eunice. Esta outra teria sido do Fernando De Grande com a esposa Julieta e filhos? O vizinho de cima seria o Oswaldo Nardi casado com a irmã da Julieta do Fernando? O Maurício Nardi irmão do Oswaldo, casado com uma das irmãs Ceccatos (uma foi rainha de Caieiras, lembra-se?) se não me engano também morou por aqui. Ah esses dois irmãos Nardis, um era “meia direita” e o outro, “meia esquerda” e como brigavam nos jogos de futebol dos domingos lá no CRM. Se um xingava a mãe do outro, isso não lembro. Não sei mais em que casa, mas, morou também por aqui o Agenor Barnabé e família, e quem mais, quem mais. Hei leitor me ajuda ai, caramba!
--Bom, nesta penúltima casa morava o Antonio Nani.
--Bingooooooooooooooooo. Isso mesmo era casado com uma das filhas do Pino Molo de lá da Rua dos Coqueiros... Será que estou certo? A gente quando chega nessa melhor idade fica sem confiar na memória. E os nomes dos filhos você sabe? Se não souber e quiser saber telefona pro Fred Assoni, mas, tenha cautela porque ele ainda é gago e demora muito pra falar. É pior de quando o Eloy Corradini era gago e eu também era né?
--Você também era gago?
--Orra meu e como era. Minha mãe uma vez me levou num benzedor lá no Sítio do Castanho, hoje lá é um bairro antes de chegar a Jundiaí pela Estrada velha de Campinas. Eu era gago e tinha um caroço no pescoço. O homem disse pra minha mãe que eu ao crescer ia perder a voz.
--Nossa! E ai você perdeu a voz?
--Perdi sim, as duas avós (risos). Bom, aqui estamos na última casa da Vila Nova. Casa do seu Glaser e esposa, ambos alemães. Filhos: Ingrid, João e o Alfredo. O João foi para a aeronáutica e tornou-se piloto de avião de caça. Chique não? Num deles colocaram o apelido de cabeção. Fico imaginando ele lá no fundo do quintal descascando mandioca e a mãe com sotaque alemão chamando-o bem alto pelo apelido... E você imaginou ai? Então leiteiro... Opa, me enganei, é leitor, desculpe. Essa família mudou-se para lá perto da igrejinha na Vila República e depois da morte do progenitor foi embora para o Bairro do Jaraguá. Depois aqui veio morar o Cesar Constantine, a Dona Izabel e as filhas Maria Lucia e Maria José. Esta, a Zezé, ela nos bailes formava par com o Otávio (Bitchim) e como dançavam bem. Casaram-se e éramos amigos. Eu a chamava de Maria Caxuxa. Não sei se ela se lembra disso. Ai cansei minha beleza hoje.
--Também pudera, você falou, falou e falou. Agradeço-te por este passeio.
--Sabe no que estou pensando? Naquela mulher lá de Campinas. A Vera, irmã do Toninho de Pádua. Ela falou que eu só enrolo e demoro pra contar um caso. Ah, por falar no Toninho, que sacanagem a minha, rapaz. Ele era gamado na minha prima. O nome dela começa com “M” e é bom ocultar o nome dela porque o marido dela pode ouvir e não gostar. Se eu soubesse que ele viria a ser um advogado não o teria impedido de namorar com ela. Paciência né? Coisas da vida. Bom, e agora leitor, nós vamos embora ou você quer continuar a ficar por aqui? É horário de verão e ainda está claro.
--Não sei viu? Será que aqui na Vila Nova ainda tem pé de abacate, de goiaba...
--Só caqui e você vai gostar.
--Como? Que é isso? Está me estranhando?
--Ué estou te dizendo que agora por aqui só tem pé de caqui.
--Ah bom! Pensando bem vamos indo, não quero perder o programa do Datena.
--Tá, tá, tá, mas, dando um fecho aqui na Vila Nova que já não aguentava mais, as pessoas citadas que eram de uma geração anterior à nossa, a do Alcindo Zanon e de outros citados, você sabe né? Quase todos morreram e só sobraram uns dois ou três ou no máximo uma meia dúzia. A vida é assim mesmo. Muitas pessoas ciscam pra cá, ciscam pra lá, fazem isso, fazem aquilo, pensam que são isso, pensam que são aquilo. Alguns pensam que são importantes e outros se julgam superiores e no fim morrem. Ficam esquecidos e até parece que nunca existiram. De vez em quando apenas seus familiares se lembram deles. Entretanto, não estou me referindo aos que aqui moraram. Aqui como em todo o bairro, se alguém tinha mania de grandeza eu não me lembro.
--Concordo, mas, vamos embora.
--Vamos sim amigo leitor. Transpirei muito hoje e perfaz dez dias que eu não tomo banho. Pra que tomar banho? Não tenho nenhuma namorada mesmo?
--Ah, ah, ah, ah, nessa você sai ganhando. Minha esposa me enche saco com isso e se eu não tomar banho ela não me deixa dormir com ela.
--Xi olha lá o carro. Tomou muito sol e deve estar um forno por dentro. Você dirige agora. Eu vou ao banco de trás para dormir um pouco.
Altino Olympio