A velha Vila Nova – 4ª parte
--Bom leitor depois dessas fofocas que te contei, tem mais, mas, não viemos até aqui na Vila Nova pra isso. Agora, essa fofoca que você me contou, eu não sabia, não! Então né, vizinho dos Lucietos é esta casa do Eugênio Mantovani e de Dona Maria D. Mantovani. São sete os seus filhos: Eulália, Olga, Euclélia, Merce, Pedro, Luiz e o Mingo (Domingos). Esse último... Viu rapaz precisamos ser discretos porque uma das filhas não gosta dessas lembranças das pessoas do passado e não te vou falar que é a esposa do Maximo Pastro. Mas, como ela não está ouvindo eu vou te lembrar daquele fato muito triste. Na fábrica de papel existiam seis máquinas em funcionamento e não me lembro em qual delas o Mingo se acidentou. Num descuido a máquina o pegou e o envolveu naqueles cilindros onde circulava aquele feltro muito quente. Desligaram a máquina para socorrê-lo e em seguida levaram-no para o hospital com muitas queimaduras. Deixando de lado os detalhes, do hospital ele veio para casa onde continuou sendo medicado. Não me lembro por quanto tempo (um mês talvez) se estendeu o sofrimento dele, de seus pais e irmãos. Como no caso da Clarice Lucietto, também o Mingo foi motivo de uma comoção geral pelo bairro e ninguém escapava dela, intensificada que foi quando ele morreu. E, naquela tristeza (coisa de garoto) lembrei-me que ele tinha o costume de, no fundo do quintal de casa armar laços para pegar passarinhos. Como nossos fundos de quintal eram próximos, eu pulava a cerca do quintal dele e destruía todas aquelas armadilhas, não porque eu era santinho, mas, sim, pelo prazer da malvadeza. Ainda hoje quando meu pensamento passeia pela Vila Nova eu vejo o Mingo. Então leitor antigamente era assim, todos se comoviam, hoje, as pessoas morrem e elas nem avisam a gente.
--É mesmo não? Ficamos sabendo depois e às vezes nem ficamos sabendo.
--Prosseguindo, nesta casa, primeiro morou o Argemiro Gil, Dona Umbelina e a filha Maria. De outros filhos não sei se nasceram aqui e nem sei seus nomes. Depois deles morou nesta casa o casal Arthur (Canelão) e Ida Pastro Gil com os filhos Jair, Ademir (Bigula) e o caçula. O casal e o caçula estão lá em Curitiba. Mas, antes do Canelão eu corto o saco se você lembrar quem morou aqui. Não vai lembrar. Aqui morou o Alberto Olimpio, esposa Carmem e os filhos Walter e Anita. O caçula nasceu numa casa daquelas que ficam antes da Vila Ilha das Cobras. Ele cresceu, se enamorou, casou com uma espanhola e logo se especializou na profissão de viúvo. Também, tendo curso superior e pós graduação na profissão de aposentado, nas raras horas vagas escreve historinhas do passado para o jornal do Estanguelão. Esse que também adora uma fofoca. Agora, casa do Armando De Grande (nunca vi e não sei se era verdade), da Dona Esther e dos filhos peraltas Ricardo e Rafael, ah, e da Maria Cecília. Agora tem esse espaço vazio que é o quintal da primeira casa lá da parte de cima onde já estamos chegando. Pronto, à nossa direita está a cada do Rubens Cruz, a última da fileira da direita por onde já percorremos e à nossa frente está à casa do Satrapa, mas, nós aqui à esquerda estamos defrontes a esta casa da esquina, a primeira a iniciar uma fileira de casas onde a última lá em cima é a do Sr Glaser. Xi tem chão até chegar lá (risos). E te falo já o porquê. O pessoal daqui era chegado num troca-troca. Mudava-se uma família e logo vinha outra a substituir. Então, esta casa da esquina era do Sr. Neufeld (Noife) e da Dona Nair e das filhas Hilda e Hilse. Lá na escola, à noite e uma vez por semana o Noife lecionava matemática e intercalava com o Antonio Siqueira que lecionava o idioma português para brasileiros. Por incrível que pareça esse idioma era o mais utilizado no Bairro da Fábrica e nas aulas o Siqueira, sempre ele começava assim “bom, hoje vamos começar com um ditado” e sempre tinha alguém que murmurava “xi, outra vez” (risos). Puxa vida desculpe! Isso nada tem a ver com a descrição dos moradores daqui. Bem, nesta segunda casa morou o Oswaldo Pokorni e Dona Esther, ela, enfermeira que viu muitas pessoas daqui nascerem. Minha nossa, como aplicava injeções na bunda dos outros. Claro era preciso. Uma ocasião, eu já “coroa” até brinquei com ela sobre isso. Talvez tenha sido quando ela esteve num programa de rádio da antiga 96.5 FM. Mas, nesta mesma casa morou o químico português Manoel Machado, esposa e a filha Manuela. Aqui agora, casa do Nine (Antonio Caldo) e Yolanda com as filhas Mariza e Marília. O Cambuquira (Antonio Olimpio) irmão da Yolanda, depois de se casar com a Antonia Miquelino da Vila das Cabras lá da Vila Cresciuma, ele veio morar no porão desta casa. Não sei se a filha Neusa nasceu no porão ou lá na Vila Leão para onde foram morar depois. O Cambuquira era um artista (claro né, era da Família dos Olimpios), ele tocava de tudo, violão, violão elétrico, sanfona (harmônica), gaita (harmônica de boca) e se não me engano tocava etc. também. Às vezes também tocava uma... Mas, continuando, vizinho do Nine era o Paulo Sprenger com a Lola Lucietto com seus dois filhos. Depois, Antonio Mandri e a Dona Alaídes com os filhos Gení e Agenor. O Walter Fonseca ao se casar com a Gení também veio morar com eles. Depois deles aqui veio morar o chefe do laboratório José Dartagnan Ramos que, na encarnação anterior foi um dos três mosqueteiros. Não confunda isso com mosca ou mosquito, eles eram espadachins. Agora vai começar a confusão. Parece que depois veio morar aqui o Andréa Leonardi, esposa... Filha Neusa e outros filhos... Ah lembrei-me de uma coisa! Eu trabalhava na carpintaria, o Zé Polatto também. Foi solicitado ao chefe da carpintaria enviar dois rapazes para trabalhar no laboratório (Seção Verificação). Eu fui um dos indicados (claro né, o chefão era o Julio Valbuza, meu padrinho) e ele indicou o Zé Polatto também. No laboratório, pegos de surpresa, nós tivemos que nos concentrar num teste de português, matemática e etc. O Paulo Sprenger que na época era o subchefe (chefão era o alemão Henrique Dick, um sósia do artista de cinema Randolf Scoth), parece ter gostado mais do meu teste e me escolheu como o novo funcionário de lá. O Zé voltou pra carpintaria. No meu primeiro dia lá no laboratório ouvi uma coisa que nunca mais esqueci. O Paulo Sprenger me falou assim: Você vai trabalhar aqui e aqui nós falamos, bem ou mal, de todo mundo que conhecemos. Às cinco horas quando você picar o cartão de ponto e for para casa, você cala o bico, nada comenta por ai e esquece tudo o que ouviu. Caramba, nunca deixei de seguir esse ensinamento. É por isso que hoje não faço fofocas de ninguém (até parece).
--Gostei disso e foi um belo ensinamento. Mas vamos continuar senão...
--Senão o que? Já estou de saco cheio de ficar aqui falando e você parece tonto, só abana a cabeça. Não sei se está gostando ou não dessas recordações. Que saco! Estou apalpando meus bolsos, acho que perdi a vinheta com as propagandas. Olha meu, nós estamos acostumados com as novelas da Globo e sempre no melhor termina o capítulo e outro fica pro dia seguinte. É uma boa idéia isso. Se eu te descrever tudo agora, tudo de uma vez, isso perde a graça e você se cansa. Vamos até ali no campinho descansar um pouco e falar de outras coisas porque preciso “botar” a cabeça em ordem. Depois da casa do Nine Caldo, sei não viu, acho que vou fazer uma confusão danada sobre quem morou aqui ou deixou de morar. Viu? Aqui sentados e encostados na porta da garagem do Alfredo Satrapa... Ah não, é garagem do “carro” do Satrapa onde tem sombra. E ai? Você tem ido aos bailes da melhor idade? Bom lá é ser freedance, você dança de graça e ainda ganha uns trocos e ninguém te dá taba. No próximo baile se aquela viúva...
Altino Olympio