As mulheres da plantação
Hoje o pensamento se recusa a pairar pelos “desatrativos” cotidianos de agora e lá vai ele se inserir numa lembrança de outrora. Relembrando o ano de 1956, trabalhei no Horto Florestal da Companhia Melhoramentos lá no Bairro do Monjolinho. Trabalhar no “Horto” ou na “Plantação” era uma exigência da indústria para com os filhos “menores de idade” dos seus funcionários enquanto aguardavam vagas para outros setores ou departamentos. Antes de decorrido um mês de trabalho no horto, contra minha vontade fui transferido para a plantação. Tinha este nome, mas, poderia se chamar também de “carpirtação”, pois, carpir era uma das tarefas constantes. Nas extensas terras da indústria, nalguma área antes de se plantar as mudas de eucalipto ou araucárias, provenientes do horto, era preciso “limpar o terreno” para se poder plantá-las. Como também, depois, entre as mudas já crescidas se carpia para impedir o mato que entre elas crescia prejudicando seus desenvolvimentos. Mulheres também eram destinadas para esse trabalho “forçado”. O transporte para os diversos e distantes lugares desse labor braçal era por caminhão. Ao chegar num desses lugares as tarefas eram divididas e lá estava eu no meu primeiro dia com a turma da plantação. Lembro-me, estava lá o Senhor Dante Zerbinatti conhecido como “Fiscal da Melhoramentos”. Ele cavalgava num belo cavalo e se parecia com o mocinho dos filmes de farwest Hopalong Cassidy. Que baita susto! A tarefa que me designaram era a de carpir uma não tão larga faixa do terreno, mas, seguindo por um terreno plano, depois continuando até um morro, lá, longe do início, a faixa se perdia de vista. A faixa à minha esquerda estava pra uma mulher e a da direita para outra. Eu entre as mulheres, amém, e os demais iniciamos a carpir no mesmo instante. Logo um “feitor” me mandou recomeçar porque meu carpido estava mal. Outras vezes antes de carpir vinte metros da faixa lá vinha ele com a mesma história “volta e vai ‘recarpir’ onde está mal carpido”. Que vergonha! As minhas colegas de faixa e todos os e as outras já estavam carpindo bem longe. Nos dias seguintes, então, já não era mais possível distingui-los tão distanciados que estavam. Sorte lá era de quem estava encarregado de, com um corote abastecer com água potável aqueles trabalhadores, bem, como preparar uma fogueira para o aquecer de suas marmitas. Sobre o meu dom na enxada, parece que esse foi o primeiro fracasso da minha vida, pois, só fiquei uma semana lá na plantação. Deportaram-me para trabalhar na carpintaria da indústria. Contudo, hoje me sinto bem ao reter essas lembranças na nostalgia de me ver no caminhão junto com as mulheres da plantação. Pensava eu não haver motivos de alegria e porque então aquelas pessoas sempre estavam alegres e sorridentes? Se me perguntava isso é porque estava eu ainda a aprender sobre a simplicidade e os valores da vida. Ah, lembro-me de um nome muito citado na época: Maria Bonita da plantação. Não retive seu rosto na memória, apenas o de uma delas que morava na Vila da Ponte seca. No entanto, ainda revejo na mente o às vezes passar do caminhão pelo lugar onde eu morava e o pensamento imediato era este “são as mulheres da plantação”. Que pena, eram seres humanos e parece que viveram anônimas entre os “almofadinhas” do lugar. Bem que alguém poderia resgatar os nomes de todas elas para incluí-las na história de “Caieiras Melhoramentos”.
Altino Olympio