O primeiro turno das eleições de 2018, teve vários perdedores: um deles foi a pesquisa eleitoral, os institutos erraram feio. Declaro não ser adepto a teorias da conspiração. Não creio que os resultados das pesquisas sejam manipulados, no entanto, acredito que as técnicas dessas pesquisas estão ultrapassadas e não refletem o real sentimento do eleitor. Elas erram tanto, que uma das explicações é que "o eleitor deixa para decidir no último momento". O segundo perdedor foi a grande imprensa, dita, especializada em política. Sem dúvida ela não é mais formadora de opinião, pois afirmou que a renovação do Congresso seria mínima, sequer deu espaço para os partidos "nanicos" ou desconhecidos, cujos candidatos se elegeram em grande número, promoveu debates que tiveram repercussão perto de zero, e em alguns casos, como já aconteceu no passado, agiu com uma indisfarçável parcialidade. As mídias sociais, ainda que timidamente, estão exercendo um papel cada dia mais relevante na opinião pública. Parece que estamos longe de compreender, profundamente, esse fenômeno, mas manifestamente ele é importante. O terceiro grande perdedor foi o anacrônico, ineficiente e corrupto sistema político brasileiro. Os grandes partidos, e seus caciques, fizeram de tudo para que a renovação dos candidatos fosse mínima, perderam e de goleada. A Câmara de Deputados teve a maior renovação desde 1990, perto de 50%, sendo que 20% dos eleitos ocuparão uma cadeira legislativa pela primeira vez. No Senado a mudança não foi uma onda, mas um tsunami. Das 54 vagas em disputa, 46 serão ocupadas por novos nomes. Uma renovação de 85%, a maior de sua história.
Os vencedores foram aqueles que perceberam que a sociedade brasileira anseia por transformação, dentro do Estado de Direito e do respeito às leis vigentes. A população brasileira está cansada de seu dia-a-dia inseguro com mais de 60.000 assassinatos por ano, outras 50.000 mortes no trânsito, em estradas e cidades abandonadas pelo poder público; de um sistema de saúde precário e desumano; está cansada em saber que mais de 50% dos domicílios não têm tratamento de esgoto; de ser transportada em ônibus e trens lotados; de levar seus filhos para escolas públicas onde os professores estão desmotivados e mal pagos; de conviver com altíssimas taxas de desemprego e de promessas vãs; de ver seu dinheiro ir para privilégios, faraônicas aposentadorias do setor público, gastos infindáveis com mordomias e corrupção, sem retorno para quem quer levar uma vida digna, trabalhar e criar sua família em paz. Esta população não quer saber de ideologias extremistas, nem de direita, nem de esquerda. Quer um país decente, digno, humano e solidário. Deu um primeiro basta, ainda que tímido, pois sabe que tem muito mais sujeira para ser removida. Que seu protagonismo continue crescendo, a limpeza apenas começou!
Celso Luiz Tracco é economista e autor do livro Às Margens do Ipiranga - a esperança em sobreviver numa sociedade desigual