Vivemos em tempos conturbados.O relacionamento humano sempre foi muito difícil, mesmo quando compensador.Nunca presenciei no entanto, tanta animosidade entre vizinhos como atualmente.O assunto até se transformou em tema de programas de televisão e está se tornando tão grave, que a própria justiça brasileira está criando pequenos tribunais com o objetivo de conciliar e acalmar os ânimos.Tudo tão diferente de tempos passados.Pelo que me lembro da minha infância, os vizinhos eram um enxerto na família tradicional e era tão bem sucedido que até casamentos aconteciam entre moradores de uma mesma rua.E tudo dava certo. Minha madrinha, amadrinhou centenas de crianças,dezenas de casamentos.E foram tantas pessoas que, em determinados momentos, não se sabia mais quem era da família e quem era da vizinhança.Todos na casa dela tinham a mesma importância,o mesmo afeto e o indiscutível respeito.Fui assim criada nesta crença de que vizinho, é sempre nosso parente mais próximo e amigo para todas as situações da vida.Ao longo do tempo só vi companheirismo,solidariedade e amizade sincera entre todos que residiam na redondeza onde morei.Uns ajudavam os outros e todos se interagiam sem muitos rodeios. Abençoados os vizinhos daquela época! Onde foi parar tudo aquilo?Hoje o que mais se ouve é reclamação de vizinho.É o vizinho barulhento, vizinho briguento, é vizinho que tem cachorro que late demais,é vizinho que liga o som no último volume,é aquele que realiza uma construção e destrói a casa do lado, é aquele faz escândalo ,é vizinho que empurra o lixo pra calçada do outro.Enfim mil reclamações, mil queixas.Tantas e tantas, que a guerra emocional se estabeleceu.A irritabilidade domina e a intolerância prevalece.Ninguém se coloca no lugar do outro.Ninguém mais se prontifica colaborar.Ninguém mais aceita ceder.Ninguém se empenha na pacificação,restando recorrer somente à delegacia e aos tribunais.Se a justiça brasileira já é lenta e morosa, imaginem agora com a guerra entre vizinhos!Acho tudo isto lamentável e triste,pois surge a certeza de que as pessoas não são mais as mesmas e que os comportamentos estão mesmo problemáticos.Acho além de triste, preocupante, pois em meio a tanto desconforto nasce também a ameaça de perda de tranqüilidade e segurança.Como conviver com um vizinho com o qual você se desentendeu?Como conviver com um vizinho que você acionou na justiça?E como conviver com um vizinho que não te respeitou e te prejudicou material e psicologicamente?Alguns tentam mudar de casa o que nem sempre significa ficar isento do problema.Em todo lugar, haverá ainda uma possibilidade do fato se repetir.Outros permanecem, mas alimentam um ressentimento tão forte que só piora o conflito.Sublimam, agüentam e ficam escravos do terrorismo e do medo.Suportam, mas vivem em constante estado de apreensão e ódio.Para dizer a verdade, não sei o que é pior.Melhor seria que o respeito fosse fator predominante e que ambas as partes,num diálogo franco, encontrassem caminhos para a solução dos conflitos.Certo seria que a amizade, ingrediente sempre benéfico, fosse a base de tudo .Ideal seria que, interesses pessoais não se sobrepusessem ao interesse coletivo porque relacionamento seja ele familiar ou de simples vizinhos, merece atenção e empenho.Morar na mesma casa, no mesmo condomínio ou na mesma rua requer habilidade e jogo de cintura.O convívio tem que ser saudável , prazeroso e principalmente amistoso.Se em décadas passadas foi simples e fortaleceu vínculos,no novo milênio gerando dramas e questionamentos requer apenas bom senso, civilidade e acima de tudo educação.
FATIMA CHIATI