Então , fizemos planos , Cabrunca velha ; Juntaríamos nossos panos de bunda , nossas escovas de dentes , nossos trastes e seríamos felizes para sempre em nosso barraco nos baixios do Morro da Muzema .
Aluguei-te um barraco , novo , de talboas ( conf Lula , o boçal ) importadas que surrupiaram do cais do porto , telhas de amianto não muito novas , cama Box reformada , cozinha completa ( 2 panelas , uma frigideira e uma chaleira ) , geladeira reformada , mesa de lata e banquinhos de plástico e banheiro com sauna ( só no verão ) ; Éramos felizes . Vc trabalhando no Sacolão do Purtugueis e eu vivendo de assaltos pequenos nas avenidas da cidade . A TV não era lá estas coisas mas , quebrava o galho .
Nosso barraco era limpo , pintado á cal , fechadura nas portas , tramelas das janelas , cortinas e tapetinhos baratos mas bonitinhos .
Viviamos bem , amávamos-nos com fulgor , quatro vzs na semana ; Saia faísca de nossas genitálias tal a voltagem produzida e a vida seguia . Na geladeira sempre tinha uma cervejinha gelada pras visitas , um goró de abertura e um salgadinho de pacote esperando .
Teus irmãos e tua mãe visitavam-nos de vez em qdo e sempre rolava um churrasquinho no quintalzinho com um dedo de prosa . Tratavam-me bem , aliás , melhor que eu esperava .
Um dia , pediste-me para ficar mais um pouco na cama pois estavas exausta . Estranhei pois nunca fostes de reclamar do trampo mas dei meu OK . Fiz alguns assaltos no semáforo , alguns relógios , celulares , bolsas , penduricalhos semi jóias e fui entregar / comercializar com a rapaziada . Era Fevereiro e começou a chover como todo ano acontece .
Mais alguns dias e o negócio começou á ficar feio . Já tínham alguns desmoronamentos , deslizamentos de terra , encharcamento de solo e afins . Ficamos apreensivos .
Notei então que seus glúteos , outrora fulgurantes e nervosos estavam perdendo o viço . Stresse pensei e não liguei . Continuavas á entrar no serviço uma ou duas horas mais tarde , por cansaço dizias . Continuei achando normal .
Foi quando tudo aconteceu . Sai prá trabalhar , dia difícil pois estava chovendo e o pessoal perna branca fecha os vidros dos carros e não expõe suas jóias para nossa apreciação e ação . Ficaste na cama mais um pouco , por causa do cansaço , dizias .
Veio então a notícia pela radio Pião ; Deslizamento de terra no Morro da Muzema , avenida Sernambetiba fechada , teme-se por mortos e desaparecidos . Corri para lá pois era onde morávamos . Chegando lá , me desesperei pois nosso barraco tinha sumido no meio da lama , arvores , madeira , entulhos . Corri então pro Sacolão do Portuga e perguntei pela minha Cabrunca ; - Ela não apareceu ainda aqui , hoje , ora pois , respondeu-me ele .
Leve pressentimento espírita veio-me á cabeça e voltei ao local do meu barraco , já apreensivo . Juntei-me aos Bombeiros , Defesa Civil , Policia e pusemo-nos á procurar algum sobrevivente pois no Hospital , Pronto Socorro , UPA etc não constava seu nome .
Anoitecia já qdo deram o aviso de que tinham achados dois corpos . Corri até lá e o que vejo ??? Minha Cabrunca abraçada ao Kid Chapeleta , ambos nús , um dentro do outro em posição de luta marcial , enlameados , ensangüentados e ........felizes .
Respeitaram-me , fizeram os procedimentos civis rapidamente pois foi constrangedor para mim encontrar a minha Cabrunca nua e em luta corporal ferrenha com meu conhecido Kid Chapeleta .
É a vida terrena do ser humano marcado , hoje por baixo , amanhã , também e segue o enterro .
Fred Assoni