Havia um quadro humorístico na década de setenta, início dos anos oitenta, em que um personagem afirmava que na verdade só queria compreender as situações inusitadas do dia a dia da época, constituindo-se em crítica social amenizada pelo conteúdo humorístico. Não me traia a memória, era uma figura de um macaco com belas mulheres ou qualquer coisa do gênero. Na tarde de hoje, assistindo aos telejornais e assistindo à matéria a respeito da ação da Prefeitura Municipal de São Paulo e Polícia Militar para a desocupação do centro velho pelos usuários de craque, ou "crack" como prefiram, lembrei-me do tal quadro humorístico. Há poucos dias se iniciou o Programa Nacional de Combate ao Crack, de iniciativa do governo federal em conjugação de esforços com os governos estaduais e municipais, convergindo ações de assistência social, segurança e principalmente saúde pública. A droga, subproduto da cocaína, tratado com ácido sulfúrico, gasolina, cimento entre outras substâncias perigosas à saúde, é capaz de viciar quimicamente, gerando dependência do organismo para manter a regularidade de suas funções já no primeiro uso. As características de tal entorpecente, aliadas a outras questões complexas, trazem à criminalidade moderna características absolutamente diversas do que se percebia há menos de duas décadas. Um entorpecente barato, de alto alcance social, potente de características pandêmicas. Uma verdadeira chaga social. Ações isoladas não são capazes de debelar terrível algoz. Segurança, saúde, educação, gestão, urbanismo, seriedade, e comprometimento são fundamentais à causa. Não há possibilidade de sucesso a ações esparsas, com interesses questionáveis, em tão séria empreita. O que dizer de confrontos institucionais surgidos certamente com a melhor das intenções, mas que reduzem a efetividade da ação dos agentes públicos diretamente envolvidos nesse "front"? Como aquele humorista, eu só queria entender.