Eu pensei que sabia todas as regras para andar pela vida!
Eu pensei que poderia fazer jus a todas minhas convicções porque os longos anos supostamente “ensinaram – me “ como porta-me diante minha vida com base na experiência alheia!
Ah! Que grande tolice! Se e sim! Aprendi muito com a verdade copiada do erro do vizinho, com as palavras dos “cunhados”, com o sermão dos “profetas de estrada”.
Estudei sobre filosofia, psicologia, sociologia, espiritualidade tive aulas de “etiqueta social”, culinária, tricô, crochê, ballet, ginástica rítmica, moral e cívica, inglês, francês, português, espanhol, aprendi que a bioimpedância mede todas as massas corporais e que de acordo com “a, b ou c” minha proporção saudável deve ser “x, y eee z”, que o peso de uma mulher deve ser proporcional a sua altura e sua sombrancelha direita deve estar num ângulo de 45 º da íris; que o “Primer” é o “up” da maquiagem moderna! Que os “papéis de carta” (aqueles com figuras de ursinhos fofinhos que nossas mães pagavam uma “nota” nos bazares de bairro) não serviam para cartas mas para colecionar, trocar e cheirar! (e, portanto, de carta, para carta, não tinham nada!)
Disseram-me que o Homem é a única espécie capaz de raciocinar! Que comemos carne de porco porque faz parte da cadeia alimentar que o porco como “lavagem” e nós comamos o porco¨! Que deveria saber a tabela periódica decorada porque são os elementos que compõe toda a estrutura física de blábláblá! Que os livros devem ser lidos polidamente, sem rabiscos ou anotações! Que o Governo Democrata é um governo “do povo, para o povo”, que USA e a Antiga União Soviética seriam sempre grandes potenciais perigos para uma explosão de guerra! Que devo rezar todas as noites 10 vezes a oração “bibibi” e 20 a oração “búbúbú” porque assim estaria purificando minha alma, no melhor dos casos!
Passei horas e horas imaginando o quanto seria perfeita a vida, já que eu aprendi tanta coisa com histórias já tão vividas!
Pois é, era tudo tão simples aparentemente! Tudo tão “perfumado ou fétido”, sem meio termo porque ou era o céu ou o inferno, o preto ou o branco (cor demais seria brega), China ou Paraguai, rosa ou azul, cinderela ou Branca de Neve, Silvio Santos ou Faustão, Menudo ou Xuxa, Caverna dos dragões ou HE Man, Batman ou Robin, Gol ou BMW, humanas ou exatas, Disneylândia ou Disneylândia, Campos do Jordão ou Campos do Jordão! Litoral norte ou ¨ficar em casa¨ (já que seria muito povão para uma paulistana”)!
O que não estava no “script” da vida era justamente o único “ato máximo” da vida: que “ser” é a única razão para andarmos pela vida!
O que não estava escrito em nenhum livro, (e segue sem ser escrito!) é que a cada um de nós neste número gigantesco de pessoas que habitam visivelmente e invisivelmente o Chamado planeta Terra é responsável por buscar solitariamente seu encontro verdadeiro com sua alma perdida entre tantos ensinamentos vendidos por fábulas nos papéis corroídos!
Claro que a enorme gama de livros de auto-ajuda que eclodiram nos últimos anos começaram a dar liceidade para este processo de buscar-se no mais além casca – corpo.
Momento de calma! Sim, acreditava saber os caminhos para satisfazer-me como “gente”, pensava e sonhava e cogitava que seria tudo mais tranquilo e perfeito com uma cartilha de sim ou não! Mas perceber que todas regras de bem viver não servem em integridade nem relativa para este crescer, não significa que uma corrida frenética tenha que ser meu “plano de trabalho” na árdua tarefa de encontrar-me!
Sim, é frustrante dar-se conta que She Ra e H Man não são as únicas opções e que perdi demasiado tempo nas classes de moral e cívica enquanto os anos fluíam dormidos dentro de meu verdadeiro lar!
Mas afinal há anos se procriam as princesas da Disneylândia e por que eu (e você) não posso criar um personagem próprio, talvez longe do ideal de uma princesa ou príncipe dos contos de fadas ventáveis, mas um personagem de carne e osso, com celulites, barrida protuberante, rugas, marcas do tempo e de guerra e realmente verdadeiro para este “eu”? Sem pressa! Sem cobranças! Sem frustrações! Com paciência mas sem resignação! As regras para andar pela vida não faziam sentido mas cheguei até aqui e, ainda que numa estenografia compulsiva para dar conta de tantos “a, b e cssss”, já descobri (ainda que intuitivamente) que todos estão sós no grande desafio da vida: ser!
“Então, abra seus olhos, desperte, com calma e viva sua vida na marcha que é só sua! ” (Digo eu a mim mesma!)
Seguro que muitas vezes aturdida pela impaciência de sair do casulo e ser borboleta, a ansiedade se funde e se confunde com o que aprendi a ser, o que pensei ser e o que quero ser! O desespero em não se equivocar nesta andança é tão latente que, por vezes, a única solução “parece ser” uma transmutação do sistema neurológico para um estado de sofreguidão constante. O despertar do sono supostamente restaurador transforma-se na agonia de viver e não sobreviver.
Eu pensei que sabia tudo para andar pela vida, mas eu não sabia que o que ninguém sabia é que não há saída para tudo o que eu pensei que sabia sobre o andar da bela vida!
Daniele de Cassia Rotundo