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05/08/2024
Imitando Fernando Pessoa

Imitando Fernando Pessoa

Estou aqui e não me acho
Talvez porque sempre relaxo
Para esta vida mal vivida
Diferente da dos outros
Que considero um esculacho
Eles encontram os seus amores
Faz tempo que fiquei sem o meu
Agora só me acho no que faço
Talvez porque não faço nada
Trabalhei e trabalhei e aposentei
Agora os dias passam e nem vejo
Porque fiquei velho sem desejos
A vida é mesmo engraçada
Parece que tudo vira palhaçada
Até a lua que era romântica
Parece que ficou toda embaçada
Eu gostava de um banco de jardim
Vendo flores ficava contido
Mas agora tenho medo de bandido
Ele vive solto e eu vivo recolhido
Sei que dizem que Ele vai voltar
Mas não encontrará em quem votar
O Fernando Pessoa tanto escrevia
Até parecia que ele vivia à toa
Como eu tendo pensamento que destoa
Da maioria que só fala e nada apregoa
E quando falo tem quem que se magoa
Para que esta vida que ninguém explica
Se quem quer explicar só se complica
Mas já percebi que vivendo nela
Com tantas tontices que são divulgadas
Ninguém mais vivendo aqui se purifica
Não adianta rezar para o Céu e a Lua
Muito menos para quem fez o infinito
Porque é aqui onde está escrito
Que só se vive tendo muitos atritos
E querendo ter felicidade entre eles
É para quem tem saber restrito

A vida aqui neste mundo é assim
A tecnologia sempre se atualiza
E os homens ligados nela 
Se desligam de si mesmos
E suas evoluções se paralisam
Verdade ou mentira? Sei lá eu

Por aqui parece que a preguiça compensa
Neste paraíso que se vive e não se pensa
E quem pensa, pensa o que outros pensam
Então para que pensar por si mesmo
Melhor é viver receptivo das comunicações
Elas que de qualquer forma a todos informa
Será que elas informam mentiras? Sei lá eu

Agora saem pelas ruas portando celulares
Pessoas falando por esses telefones
Parecem que são malucas falando sozinhas
São importantes e importantes seus assuntos?
Se são ou não são... ... sei lá eu

As pessoas nascem neste mundo sem querer
E logo que nascem as ensinam a querer
O querer sempre se esteve junto do ter
Assim cada um só é o que é quando tem
Porque a todo o que tem mais será dado
Mas ao que não tem até o que tem será tirado
Nossa! Isso será verdade? Sei lá eu

Sei lá se estou para vida ou se ela está para mim
Um homem e uma mulher me fizeram existir
Assim como vieram a existir homens e mulheres
Para depois que nascem não possam desistir
Depois que se nasce se é obrigado a viver
E enfrentar tudo o que possa acontecer
E também contribuir que outros venham a nascer
Assim é, assim sempre foi e assim sempre será 
E como existiu a antiga novela “O direito de nascer”
Todos também têm o direito de morrer (rsrsrsrsrs)
E tudo foi um nascer sem saber e sem pedir
E toda a morte virá sem que se possa impedir
Quando e como é que se vive melhor? Sei lá eu

Altino Olímpio