Hoje acordei mais cedo do que costumo.
Desci, peguei minha xícara de café e abri a porta que dá para o quintal dos fundos para minha cachorra fazer xixi. Tão pronto ela saiu virei as costas e segui “correndo”, esperançosa de "economizar tempo" para não atrasar”!
Quando Nana entrou, apressei-me a fechar a porta, com receio que algum bicho entrasse em casa naquele meio minuto. Apertei os passos.
Salva “dos perigos” da mãe natureza, virei a “chave”.
- O que são estas coisas no jardim? Alguém põe a coleira na Nana, passou das 7:30!
Abri novamente a porta.
-São apenas flores amarelas. As folhas das árvores da minha pequena floresta não tem flores. Provavelmente chegaram na cauda do vento.
Investiguei sorrateiramente as árvores vizinhas.
Superficialmente descartei meus devaneios sobre a beleza, a delicadeza, o regalo que elas traziam e que meu coração tanto precisava. Avancei rumo a rotina pouco colorida.
Neste caos de poucos pensamentos, sai.
Voltei para casa após deixar as crianças na escola e Nana (minha cachorra) no veterinário para cortar as unhas.
-Consegui! Será que “dá tempo” de dar uma limpadinha na casa antes de começar o trabalho economicamente rentável? Ou aproveito que estou “em tempo” e adianto meus estudos perpetuamente atrasados?
-Escrever? Isto é prazeroso demais para uma manhã de sexta feira ensolarada!
- A garagem estará mais fresca hoje, talvez seja o momento de arrumá-la ou, ao menos, separar os 1000 saquinhos de café para doação.
Para este caos pouco reacionário, regressei!
“E dizem que isto é ser gente!
Esta gente que caminha olhando para o chão enquanto no asfalto.
Anda calçada, sem desnudar a mente, acreditando que a panaceia é sim, remédio de tolo.
Este é o mundo de ser gente que constrói e destrói, tentando encher o buracao da emoção que não ressoa na mente.
Que lástima Daniele, que ainda seja tão gente!”
Como o caminhão de lixo passa no sábado, achei prudente limpar as “necessidades” da Nana do jardim. De alguma maneira pouco ortodoxa sabia que algo me esperava do lado de lá daquela porta branca.
-As flores amarelas!
Acomodadas no gramado, por todos os lados, pareciam sorrir me chamando para ficar.
O perfume doce. Como pode a natureza oler tão prazenteiramente?
Denis disse que são presentes!
- Bem dizem que elas são assim, chegam desanuviadas, clareando o espírito, soprando as folhas deitadas nas encostas. Destes amores que a vida nos dá!
Não são nada gente!
Elas são leves, doces, langorosas, suaves. São afetuosas, meigas e harmoniosas.
Elas falam! Recitam sobre o amor escondido, sobre o ordinariamente proibido, sobre o frio do inverno que congela coração de gente.
Me contaram que as filhas das filhas das folhas plantadas dentro do meu quadrado, haviam nascido e me esperavam.
Advertiram que estou realmente atrasada para ser menos gente.
Montei um buquê em minhas mãos e pedi para que as fadas sentinelas entregassem a meus amados com um saudosismo irrefutável mas terno como a luz daquelas pétalas torneadas por um ourives da mata.
Se você sentiu um sopro acariciando seu rosto é porque lhe enviei flores desejando copiosamente que seja menos gente!
Elas são flores amarelas!
E voce?
Daniele de Cassia Rotundo.