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29/01/1985
Ed. 197

Já é tarde e o cansaço me acalma, o ar pesado, denso, sufoca até a alma, que antes estava inquieta.

Não mais espero a atividade, nem sequer a falta de, apenas deixo o tempo fluir, e ele passa, desatento...

As pessoas também passam, os ideais são substituídos e o mundo e o mundo continua o mesmo, ou melhor, cada vez mais conturbado.

Ainda que muito se faça, muito se tente, as coisas pouco mudarão, parece que estamos destinados a acompanhar a hecatombe de braços atados a nossos próprios erros, sem podermos mover as mãos para conter o extermínio.
Hitler, Mussolini, Khomeini, todos com idéias parecidas, loucos ou não, tentaram derrubar o mundo para sobreporem-se a ele.

Não conseguiram.

Cristo, Ghandi, Francisco de Assis, todos com o mesmo ideal, loucos ou não, tentaram elevar o mundo para colocá-los em nossas mãos.

Não conseguiram.

E nós, fantoches insensatos e medíocres, o que esperamos?

Não reunimos condições nem para construir, nem para destruir nada.

Apenas cobramos da vida, do mundo e dos outros, atitudes que possam alterar os rumos da humanidade. Sonho mais antigo...

A cada dia aumenta a legião dos comodistas de fato que se julgam idealistas de direito.
Já somos cinco bilhões e em breve seremos dez que, passados numa peneira, escoarão como sal, sem que reste uma centena de almas maiores que os furos da peneira.

Há que se ter esperança, mas eu já não consigo, a minha única esperança é de que, dentre os bilhões, ainda restem alguns para ter esperança, quando os esperançosos e desesperados de agora sucumbirem frente aos anjos do Apocalipse.

Terezinha Quintanilha


Jornal A Semana