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08/04/1982
Ed. 57 - Ônibus: a tarifa vai ou não baixar?

“O preço da tarifa de ônibus em Caieiras é de Cr$20,00 e Cr$10,00 para estudante”.
“O preço da tarifa do ônibus em Caieiras é de Cr$30,00”.

Por essas duas afirmações, uma, a primeira, do prefeito Gino Dártora, outra, a segunda, do empresário José Selleguim, da Viação Francorrochense, concessionária das linhas municipais de Caieiras, refletem bem o estado de total confusão que se abateu nesta última semana no município de Caieiras.

Toda a confusão, que começou num decreto na última sexta-feira, e culminou, esta semana, com um mandado de segurança, na quarta, repercutiu desde as salas fechadas do gabinete do prefeito, até a delegacia, passando pelas ruas e principalmente, pelos corredores e roletas dos ônibus.

“O preço é vinte, mas na delegacia, eu tive que pagar trinta, sem choro...”

Embora o Decreto esteja em vigor desde sexta-feira passada, em nenhum momento foi cobrada a tarifa de 20 cruzeiros, com os cobradores e motoristas dos ônibus orientados para receber 30 cruzeiros e, em caso de dúvida, parar o coletivo.

Isso acabou acontecendo, alega a senhorita Solange, quando ela se recusou a pagar os trinta cruzeiros exigidos pelo cobrador de um dos ônibus das linhas municipais de Caieiras. Segundo ela, o motorista parou o coletivo na Delegacia, e, pelo sim pelo não, acabou pagando a tarifa antiga, de trinta cruzeiros. Na delegacia, porém, a informação que recebemos foi de que o que aconteceu foi de um ônibus que parou ali, recusando-se a prosseguir viagem, se os passageiros não pagassem os 30,00 cruzeiros exigidos. Nessa medida, teria recebido instrução para seguir viagem, cobrando 20,00 e não 30,00 cruzeiros.

Com tudo isso, no entanto, o prefeito Gino Dártora ameaçava cassar o alvará de funcionamento das linhas municipais de ônibus daquela empresa, caso não estivesse sendo cumprido o decreto que baixava a tarifa, e dizia estar formando uma comissão que averiguaria a atitude da empresa, tentando reunir provas da não obediência ao decreto, para então enquadrá-la nas penas administrativas, inclusive rescindindo o contrato com a empresa, medida essa que era considerada também a única plausível pelo delegado de polícia de Caieiras, Dr. José Gomes Santos, que não considerava o problema como sendo “de polícia”.

“Eu vi o decreto, mas não baixei a tarifa”

Enquanto o prefeito dizia estar “reunindo provas de que a empresa não estava cumprindo o decreto”, o próprio diretor da empresa de ônibus em questão, José Selleguim, afirmava categoricamente, que tinha conhecimento do decreto, mas que ainda assim, resolverá não cumprí-lo, e sim contestá-lo, impetrando um mandado de segurança contra a medida do prefeito, que ele considera arbitrária.

Esse mandado de segurança já era de conhecimento do prefeito, ainda que extra oficialmente, que afirmava inclusive que, se “o Selleguim fizer isso nós vamos brigar na Justiça, e o Ladário já me disse que fará as linhas ao preço que pede o Decreto”.

O conturbado acordo entre ônibus e prefeito

De seu gabinete, o prefeito Gino dizia ter recebido através de seu assessor, Rubens G. Franco, uma proposta da empresa de ônibus, que não teria sido aceita, de acordo, em que a empresa se propunha a fazer esse preço – 20,00 – entre 4.00 e 8.00 da manhã e entre 18.00 e 20.00 horas, mas só entre a estação e a Crisciúma.

Por seu turno, José Selleguim admitia a existência de uma tentativa de acordo, só que de iniciativa do prefeito, nos mesmos termos, que ele, José Selleguim, não teria aceito.

“Agora – sentenciava José Selleguim, como que querendo encerrar o assunto – vamos esperar o que dirá o Juiz”.

Jornal A Semana