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07/02/1991
Ed. 458 - O faz de conta

O País do faz de conta vem assumindo sua sina, votamos em um presidente que tudo prometeu e nada consegue.

Tivemos um governador tido como administrador nota dez e grande tocador de obras, agora ei-lo envolvido nas páginas criminais dos jornais, as estradas que pareciam duradouras não passam de camadinhas de asfalto a preço exorbitante. Os assessores enriqueceram durante seu governo e não sabem explicar como. Um dia ter de explicar como construiu um imóvel gigantesco com salário de assessor vai ficar difícil. As denúncias de corrupção sucedem-se em todos os níveis, vão de Norte a Sul, não respeitam nem a primeira dama, em que pese seu pranto copioso.

A justiça tenta, mas nem sempre consegue, daí vem o "jeitinho" e o "rabinho" preso, os acordos feitos fora do fórum que deixam os juízes pasmos, e claro, desiludidos. Sarney criou o tíquete de leite para os políticos se lambuzarem e o Fiore a sacola de alimentos, bem antes da LBA. Enquanto isso o povo (um detalhe) já consegue trocar dois votos por uma sacola (não muito cheia) de alimentos, sabedoria popular é isso.

E lá nau se vá, para onde ninguém sabe. O salário digno para tirar o trabalhador da humilhação de ter que pedir, não tem pressa, mas os reajustes dos deputados sim, mais 62% para eles, ganham tão pouco, só 2,5 milhões. Por seu lado as empresas andam no vermelho faz tempo, e vermelho convenhamos, até os Russos querem distância.

 

Erva daninha

Assim no patropi, o governo faz de conta que paga, o professor faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende. Mas não percam a esperança, como disse o Chico (Buarque). "Um dia ele vai embora, para nunca mais voltar", embora fique um problema: "No chão que ele pisou só vai continuar nascendo "erva daninha"".

EDSON NAVARRO, economista, é vice-prefeito de Caieiras.

Jornal A Semana